São Paulo, domingo, 10 de abril de 2011

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ANÁLISE 100 DIAS

Novo perfil de Dilma já começa a se revelar

Marketing e iniciativas concretas ajudam a mudar fama de "durona"


DILMA TEM SE DIFERENCIADO PELA CAPACIDADE DE IMPEDIR QUE DIVERGÊNCIAS DO GOVERNO SEJAM DIVULGADAS


CARLOS FICO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Dilma Rousseff tem manejado com profissionalismo a construção de sua nova imagem. Associada, até recentemente, à figura da administradora implacável, a presidente vem conseguindo rapidamente alterar esse perfil -que também era agravado por ela ser vista como uma criação artificial de Lula.
A ênfase em sua condição de mulher certamente colaborou para amenizar a fama de "durona".
Isso se deu não apenas por meio de gestos de marketing (foto com o netinho), mas também por iniciativas concretas (ações governamentais voltadas para as mulheres) e atitudes carregadas de "autenticidade" (presença de companheiras de prisão na posse).
A presidente é formada na militância de esquerda, um "treinamento" político nada desprezível. Trata-se de marca indelével em sua trajetória, que ora vem à tona (quando defende os direitos humanos), ora submerge (a questão da luta armada causa desconforto).
O aspecto da resistência democrática, porém, tem sobressaído, inclusive com a ajuda do presidente dos EUA, Barack Obama.
Também o temor de que seria caudatária de Lula vem sendo dissipado.
Algumas iniciativas destacam a nova presidente do antecessor e de outros presidentes. Esse é o caso da dupla de generais, Elito e Heleno, desautorizados por causa de pronunciamentos disparatados: poucos presidentes enfrentaram os militares.
Dilma também se diferencia pela rapidez com que demite (ou não nomeia) assessores afoitos e pela capacidade de impedir que divergências dentro do governo sejam muito divulgadas. Destaque-se, ainda, a agilidade com que aparece nas grandes crises e tragédias.
Tendo em vista a tipologia de imagens que podem marcar autoridades (por exemplo, é fácil lembrar presidentes com "postura de estadista", descritos como "pessoas simples", marcados por "gestos espetaculares", evocados como "carismáticos", etc.), é muito cedo para sabermos qual será a marca distintiva de Dilma Rousseff.
Alguns traços parecem permanentes (como a volúpia do trabalho, do controle técnico das minúcias), outros ainda podem se assentar ou dissipar-se, mas o importante é que a imagem que um mandatário constrói para si quer passar uma mensagem.
Ela não se cria apenas com marketing político, mas se baseia em sua personalidade, e alguns gestos são reveladores: quando discursa e é aplaudida, a presidente repete a frase não ouvida como quem adverte: "Entendam bem o que estou dizendo!"

CARLOS FICO é professor de história da UFRJ e editor do blog Brasil Recente.


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