São Paulo, quinta-feira, 10 de junho de 2010

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JANIO DE FREITAS

Negócios à parte


Os lucros ocidentais estão protegidos: o Conselho de Segurança é um eficiente escritório de negócios


A RESOLUÇÃO aprovada pelo Conselho de Segurança da ONU, com novas sanções ao comércio internacional do Irã, teve o cuidado óbvio de não impor restrição alguma aos negócios com petróleo iraniano.
Embora esteja entre os maiores exportadores mundiais, o Irã processa a maior parte do seu petróleo em refinarias estrangeiras, como sempre pertencentes a Estados Unidos, Inglaterra e França.
Os altos lucros ocidentais estão protegidos: o Conselho de Segurança é um eficiente escritório de negócios internacionais. E a maioria dos impasses e conflitos também não precisa de outra razão de ser, acrescida da frequente contribuição dos fundamentalismos religiosos e étnicos.
Ainda não há estimativa conhecida dos efeitos que a resolução poderá ter sobre as crescentes exportações brasileiras para o Irã. Os negócios em andamento da Petrobras, altos em valor e em perspectivas, devem entrar na cláusula do petróleo, mas sem certeza disso.
As multinacionais que se valem do petróleo iraniano têm força política bastante para questionar investimentos que, mesmo na área petrolífera, associam-se ao crescimento econômico do Irã.
No plano menos truculento da política por aqui, a resolução do Conselho de Segurança presta-se, em hora muito conveniente, a ser dada pela oposição como derrota do Brasil, provocada por pretensão exorbitante do governo Lula.
Esvaziada de interpretações eleitorais, a resolução não oferece aspecto de derrota brasileira. O que a pretensão de Lula foi buscar, nos entendimentos com Turquia e Irã, era o prescrito e escrito por Barack Obama, entre outros. E isso foi obtido. Daí por diante, nada mais a ver com ação brasileira.
Se o acordo antes desejado tornou-se desprezível, uma vez obtido, deve-se a motivos ainda pouco ou nada conhecidos. Mas, por certo, prevalecentes pela fraqueza que Barack Obama, ao inverso de sua ação interna, tem exibido na política externa, com recuos e revisões que desmoralizam vários de seus compromissos de candidato (por exemplo, a retirada das tropas do Iraque até um ano após a posse e a contenção do comprometimento no Afeganistão).
Ainda passível de polêmica é a decisão de Lula de envolver-se em impasse remoto para o Brasil, sob o risco de um insucesso capaz de consequências muito negativas sobre a projeção que o país começa a obter.
Como resultado, porém, na pior das hipóteses pode-se dizer que a ação brasileira, à falta do desdobramento desejado, não melhorou mas também não agravou nada. O que seria mesmo uma certeza prévia de Lula, que em rápido comentário, a propósito das críticas à sua iniciativa, certa vez disse que "tudo foi conversado e acertado com todos, Estados Unidos, França, Irã, Alemanha...".
Há duas derrotas, porém. Uma, imposta pelos países condutores do Conselho de Segurança da ONU, das alternativas ao tratamento convencional recebido pelos impasses internacionais, sempre baseado na força em suas diferentes formas. Outra, da região efervescente, cujos riscos de situações ainda mais dramáticas, ou trágicas, a resolução vem aumentar, como incentivo às irracionalidades iranianas.


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