São Paulo, sexta-feira, 10 de junho de 2011

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ANÁLISE GOVERNO

Mesmo com saída de Palocci, Dilma não consegue frear a crise

Momento deixa exposto uma das grandes dificuldades da presidente -faltam nomes no PT e sobram no PMDB

CRISE GERALMENTE SERVE COMO FREIO DE ARRUMAÇÃO, ESPECIALMENTE EM UM GOVERNO QUE MAL COMEÇOU, MAS DILMA NÃO ESTÁ CONSEGUINDO FREÁ-LA

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

Entre tantas outras coisas, a queda de Antonio Palocci, não apenas da Casa Civil, mas da posição de homem-chave do governo Dilma Rousseff, expõe uma das grandes dificuldades da presidente: ela fica na dependência do PT, que não tem quadros, e do PMDB, que tem até demais.
Dilma enfrentou obstáculos para montar sua coordenação política já para a posse em 1º de janeiro. Faltavam nomes no PT até mesmo para funções no partido, e ela não queria os do PMDB por perto.
Os petistas Luiz Sérgio (RJ), Marco Maia (RS) e Paulo Teixeira (SP) caíram respectivamente no Secretaria de Relações Institucionais, na presidência da Câmara e na liderança do PT na casa por... eliminação.
Numa avaliação corrente no Congresso, Luiz Sérgio, Maia e Teixeira não têm dimensão e experiência para missões tão estratégicas e se omitem ou se engalfinham com quem tem: o líder do governo, Cândido Vaccarezza (PT-SP), e o calejado líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN).
A derrota do governo na votação do Código Florestal na Câmara foi em boa parte resultado dessa desarticulação. E o PT simplesmente se dividiu ao meio.
Todos os sinais amarelos começaram a piscar no Palácio do Planalto e passaram ao vermelho quando a situação de Palocci se tornou insustentável. Sem esse eixo, a frágil sustentação política de Dilma ruiu. O PT não se entende internamente nem com o PMDB.
Dilma nomeou a senadora de primeiro mandato Gleisi Hoffmann (PT-PR) para o lugar de Palocci na Casa Civil em busca da estabilidade perdida. Mas este era apenas um dos papéis de Palocci no governo, e nem mesmo era o principal. O principal era a articulação política.
Palocci e Luiz Sérgio jamais formaram uma dupla de fato, e a base aliada sabe muito bem farejar com quem está o poder. Sem Palocci, Luiz Sérgio virou pó. Dilma tem de escolher alguém do PT, mas não há ninguém a olho nu; e não pode escolher ninguém do PMDB, que já tem excesso de poder.
Especula-se com os nomes de Vaccarezza ou da ex-senadora e atual ministra da Pesca, Ideli Salvatti (SC), mas isso significa que Dilma vai depender mais e mais dos peemedebistas. Quanto mais ela tenta escapar da maldição, mais mergulha nela.
Crise geralmente serve como freio de arrumação, especialmente num governo que mal começou. Mas toda regra tem exceção. Dilma não está conseguindo frear a crise.


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