São Paulo, domingo, 10 de julho de 2011

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9ª FESTA LITERÁRIA INTERNACIONAL DE PARATY

João Ubaldo criou obra-prima tentando "fazer um livro grande"

Escritor arrancou gargalhadas da plateia ao explicar como surgiu "Viva o Povo Brasileiro"

Autor não comentou cancelamento da ida à Flip de 2004; convite já foi chamado por ele de "rabada dos etcs."

JOSÉLIA AGUIAR
ENVIADA ESPECIAL A PARATY

O baiano João Ubaldo Ribeiro disse que não ia embelezar a resposta: "Quis escrever um romance bem escrito, grande. E grosso", repetiu, levando às gargalhadas sua plateia em Paraty, no fim da tarde de ontem.
Era a resposta sobre como surgiu "Viva o Povo Brasileiro" (1984), considerado sua obra-prima, eleito em votações de críticos como um dos maiores romances brasileiros dos últimos 25 anos.
Ele explicou que fez a obra "para esfregar" em seu editor na época, Pedro Paulo de Sena Madureira, que o provocara dizendo que "autor brasileiro só fazia livro fininho, para ler na ponte aérea".
Um Ubaldo comportado, com respostas suaves e concisas, sem as polêmicas e digressões que o caracterizam, se apresentou ao público.
"Meu santo nunca bateu com o de Guimarães Rosa", disse, a certa altura, provocando mais risos. "Seria um desvario negar sua importância", ponderou.
Um assunto ficou intocado: o cancelamento de sua ida à Flip, em 2004, porque achou que as estrelas seriam os estrangeiros.
Sua leve crítica, em entrevistas ou conversas informais, é que boa parte dos frequentadores se preocupava mais com o agito do que com os livros, mas que era uma maneira de divulgá-los.
Em fevereiro passado, na Folha, ele já havia respondido sobre a aceitação agora do convite da Flip, o primeiro, segundo ele, após o episódio. "Não quero ser estrela, só não quero ir na rabada dos etcs., pois não sou um iniciante", disse na ocasião.

POUCA POLÍTICA
Na mesa de Ubaldo, falou-se bastante de livros. E menos de política do que se podia esperar.
Uma rara passagem, que fez a plateia rir novamente: contou que certa vez um sargento do pai, então chefe de segurança, empastelou o jornal comunista da cidade por iniciativa própria, porque a manchete criticara o chefe. "Agora vamos ter de pôr a culpa nos integralistas", teria dito o pai de Ubaldo.
Ubaldo lembrou também do avô, historiador e folclorista de Itaparica, que "distorcia as coisas". Disse que, como o avô, não se preocupa com a veracidade. "Com a verossimilhança, sim".
Explicou que usa o nome dos amigos em enredos que inventa. Mas que seria capaz de descrever como seria um parto, do ponto de vista de uma mulher, só por pesquisar o assunto.
Entre tantos episódios engraçados, o escritor baiano disse que não era muito otimista com a humanidade. "Somos uma especizinha muito criticável."


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