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Peluso ignora conselho criado por Mendes no CNJ
Grupo de acadêmicos que deveria orientar pesquisas não se reúne desde abril
Kazuo Watanabe, da USP, não acredita que órgão será esvaziado; Everardo Maciel diz que não sabe o que ocorreu
FREDERICO VASCONCELOS
DE SÃO PAULO
O conselho de acadêmicos
e magistrados indicado em
2009 pelo ministro Gilmar
Mendes para acompanhar as
pesquisas do CNJ (Conselho
Nacional de Justiça) não se
reúne desde que o ministro
Cezar Peluso assumiu a presidência do órgão, em abril.
O Conselho Consultivo é
formado por nove especialistas em criminologia, planejamento, ciência política, meio
ambiente e economia. Desinformados, eles veem a desmobilização como mais um
sinal de mudança nos rumos
do CNJ sob nova direção. Alguns temem o esvaziamento
desse colégio de notáveis.
Participam do conselho,
sem nenhuma remuneração,
o economista Armando Castelar; a pesquisadora Elizabeth Sussekind; o ex-secretário da Receita Everardo Maciel; os cientistas políticos
Maria Tereza Sadek e Luiz
Werneck Vianna; o professor
de direito Kazuo Watanabe;
os desembargadores aposentados Yussef Said Cahali e
Vladimir Passos de Freitas; e
o consultor da FGV Carlos
Augusto Lopes da Costa.
Os conselheiros têm mandato de dois anos e deveriam
reunir-se a cada dois meses.
A expectativa inicial era estimular investigações científicas sobre as prisões provisórias, a ausência institucional
da Justiça em algumas localidades e o excesso de ações
nos juizados especiais.
"Eu lamento muito. Poderia ser feito um importante
trabalho", diz Maria Tereza
Sadek. "Sugerimos pesquisas fundamentais para um
diagnóstico mais apurado
das varas e tribunais, que poderiam se transformar em
políticas públicas".
A presidência do CNJ atribui o hiato à fase de transição
no Departamento de Pesquisas Judiciárias, ao qual o conselho consultivo é vinculado,
diante da recente aposentadoria da diretora-executiva.
O coordenador do Conselho Consultivo, Vladimir Passos de Freitas, a quem caberia convocar os outros notáveis, vai auxiliar a nova corregedora nacional de Justiça,
ministra Eliana Calmon. Não
se sabe se Freitas acumulará
as duas funções, e se será
eleito um novo coordenador.
Kazuo Watanabe, professor de direito da USP, não crê
em esvaziamento do conselho: "Tenho a impressão que
o ministro [Peluso] está tomando pé da situação. Logo
haverá uma convocação".
O prejuízo maior, segundo
Watanabe, é a falta de discussão. Ele diz que as pesquisas selecionadas vêm sendo
realizadas por terceiros.
"Eu estou entre os que não
sabem o que aconteceu. Não
sei o que está se passando",
diz Everardo Maciel. Com a
falta de reuniões, o conselho
não tem acompanhado os
projetos que selecionou. Os
trabalhos estão sendo feitos
em universidades -neles serão investidos R$ 2 milhões.
DIVERGÊNCIAS
O enfraquecimento do
Conselho Consultivo do CNJ
é mais uma ponta do iceberg
a revelar desencontros no comando do órgão e sugere que
estão vindo à tona divergências mais profundas. Os ministros Gilmar Mendes e Cezar Peluso têm estilos e temperamentos diferentes.
Previa-se que Peluso faria
uma administração mais discreta, em contraste com a
gestão midiática de Mendes.
Juiz de carreira, o atual presidente do STF é oriundo do
Tribunal de Justiça de São
Paulo, uma das cortes mais
resistentes à ação do CNJ.
Essa formação explicaria a
prioridade que Peluso pretende dar ao controle disciplinar do CNJ, dirigindo a
ação fiscalizatória para as
corregedorias dos tribunais.
Com isso, reduz-se a exposição de juízes suspeitos.
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