São Paulo, sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

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Para jornalista, Dantas foi "demonizado" na Satiagraha

Livro afirma que disputa pelo mercado de telecomunicações está por trás do caso

Autor diz que "trama política" desviou foco das privatizações e sustou investigação sobre o mensalão do PT

FREDERICO VASCONCELOS
DE SÃO PAULO

A "demonização" do banqueiro Daniel Dantas, do Opportunity, foi resultado de disputas entre grupos econômicos pelo mercado brasileiro das telecomunicações.
A tese é do jornalista Raimundo Rodrigues Pereira, 70, em "O Escândalo Daniel Dantas". O livro é uma crítica ao trabalho do delegado Protógenes Queiroz na famosa Operação Satiagraha.
O método de Queiroz foi "grampear conversas e mobilizar um exército de arapongas e analistas precários para tirar delas fragmentos que o mau jornalismo transformaria em escândalo", diz.
Ele vê uma trama política que desviou o foco das privatizações tucanas e sustou uma investigação sobre Dantas e o mensalão petista.

ORIGEM
A disputa pelo mercado das telecomunicações começou com as privatizações no governo FHC. Mas "o ataque a Dantas mudou de qualidade no governo Lula", diz.
Dantas "era um diabo como os outros" no inferno do sistema financeiro. "Atacá-lo, para não mudar nada, nem nas telecomunicações, nem nas finanças, foi uma jogada de mestre", diz o autor.
Em 1998, os grampos do BNDES revelavam a preferência dos tucanos pelo consórcio do Opportunity no leilão da Telemar. Mas quem ganhou foi o consórcio Jereissati-Andrade Gutierrez.
Dantas detinha o controle da Brasil Telecom (BrT). No governo Lula, os fundos de pensão pressionaram para afastar Dantas do comando da BrT e do fundo do Citi. O objetivo era vender a BrT à Telecom Italia, que disputava a telefonia celular.
Quem comprou a BrT, em 2008, foi a Oi, empresa de telefonia controlada por Sérgio Andrade e Carlos Jereissati. Esse grupo foi o grande beneficiado pela satanização de Dantas, segundo Pereira.

"GUERRA DE PAPEL"
Em 2000, a "Veja" mostra Dantas como um "financista demoníaco". "O Globo" denuncia irregularidades no fundo do Opportunity nas Ilhas Cayman. "Carta Capital" traz o primeiro dos quase cem textos contra Dantas.
Por trás dessas reportagens, diz Pereira, estavam os fundos de pensão, a canadense TIW, a Telecom Italia e Luiz Roberto Demarco, sócio demitido do Opportunity em 1999 e que se tornou "implacável acusador de Dantas".
A Telecom Italia, "com cobertura do governo brasileiro", rebaixou do campo político para o policial o nível da luta pelo controle da BrT. A TI fez espionagem e pagava cerca de 1 milhão de euros por mês ao financista Naji Nahas para intervir em seu favor na disputa com Dantas.
Agentes da TI invadiram o sistema da Kroll -que investigava ações do grupo italiano contra Dantas. Em 2004, a TI entregou à PF CD que deu origem à Operação Chacal, investigação contra Dantas.

MENSALÃO
Em 2007, Protógenes assume a Chacal, rebatizada de Satiagraha, para investigar se Dantas foi o grande financiador do mensalão petista.
Mas decidiu centrar a investigação na venda da BrT. Para Protógenes, havia a quadrilha de Dantas e outra de Naji Nahas. Por cima das duas, o Palácio do Planalto.
"Esse conjunto de hipóteses ridículas só se transforma em fato perante a opinião pública porque os procuradores e o juiz [Fausto De Sanctis] que as leem, ou deveriam ter lido, não se dão conta do absurdo", afirma Pereira.
Em 2008, o INC (Instituto Nacional de Criminalística) conclui que é difícil identificar os clientes do Opportunity que teriam feito operações suspeitas em Cayman. O delegado Protógenes "decide pedir ao juiz De Sanctis a operação controlada com a qual iria obter, do mesmo juiz, a condenação de Dantas por suborno".
Queiroz recebeu transcrição do grampo de uma curta conversa entre um sócio de Dantas, Humberto Braz, e o próprio Dantas, na qual o nome do delegado era citado.
"Era a saída para prender Dantas por corrupção", diz Pereira. Ele ouviu o grampo no Opportunity e diz que não há prova de que ali havia uma ordem para tentar corromper o delegado.

"GOLPE DE MESTRE"
A prisão de Dantas "foi golpe de mestre para duas tramas diabólicas": a Satiagraha havia sido inútil para investigar o mensalão e inócua para apurar as operações do Opportunity em Cayman.
Protógenes deu à TV Globo a exclusividade da cobertura da prisão e usou jornalistas da emissora no papel de policiais, afirma o jornalista.
Ele concluiu o livro em agosto, com duas previsões: Protógenes seria condenado e se elegeria deputado federal. O delegado se elegeu.

O ESCÂNDALO DANIEL DANTAS

AUTOR Raimundo Rodrigues Pereira
EDITORA Manifesto
QUANTO R$ 56,00 (326 págs.)


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