São Paulo, domingo, 11 de julho de 2010

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JANIO DE FREITAS

O atraso do começo


Na primeira semana da campanha, Serra e Dilma não apresentaram mais do que dois atos insultuosos


A PRIMEIRA SEMANA de campanha legal e explícita não é prenúncio seguro do que teremos daqui para a frente, mas não precisava ser tão medíocre. Para não ficar no zero em novidade, em algo a sair dos marqueteiros que posam de gênios e recebem fortunas por suas obviedades, vieram da distante e desmarquetada Marina Silva as Casas de Marina, ideia simpática e promissora cuja eficácia dependerá dos meios de impulsioná-la. Os ponteiros José Serra e Dilma Rousseff, no entanto, não ofereceram ao eleitorado mais do que a estreia com dois atos graves e insultuosos.
Serra não se deu ao trabalho sequer de costurar algumas bases de seus propósitos presidenciais e registrá-los, como exigido pela legislação, à maneira de pilares do programa oficial proposto aos eleitores. Mandou para o registro dois discursos passados e, o que deles diz tudo, esquecidos, agora mascarados de programa. Aí não houve só o descaso com a legislação, gesto sem originalidade em candidatos. Valeu como um reflexo da desimportância atribuída pelo candidato a ideias, problemas e programas de ação, desprezados em favor dos truques de atração eleitoral. Logo, desimportância atribuída à pessoa de cada eleitor.
Para o registro de Dilma foi usado o programa aprovado em convenção do PT, com a presença de um ou outro daqueles objetivos que servem só para engambelar a fantasia de sobrevivência do petismo. As primeiras reações levaram o comitê chefiado por Antonio Palocci a trocar o papel por um cuja procedência se ignora. Na melhor hipótese, não saiu de uma gaveta de velhos guardados. Nem por isso o ocorrido deixou de expressar o desprezo pelos aliados, como o PMDB avesso às reminiscências programáticas do PT; e a tapeação, porque aquele não era o programa real da candidata. Não há como acreditar na alegação de troca involuntária de documentos no primeiro registro, tão diferentes na forma, já desde o cabeçalho de um com a indicação PT, e tão conhecido este dos integrantes do comitê e da própria candidata.
A primeira semana não é prenúncio seguro em todos os sentidos, mas em alguns pode ser. Na chamada baixaria, por exemplo, e na contribuição de candidatos para o nível rasteiro das relações da política com os eleitores, fator de alguns dos mais persistentes atrasos dos brasileiros e do país mesmo. E dos candidatos.

VIDA
Quem a leu a notícia (Folha, 9.jul.10) de que a ciência comprovou serem as florestas tropicais a mais eficiente máquina de absorção do gás carbônico (atual obsessão das biociências), leu sem perceber a parte problemática do futuro do Brasil neste século.
A Amazônia, incluindo faixas de países ao Norte e a Oeste do Brasil, é a maior massa de floresta tropical do planeta. E, de outra parte, o excesso de gás carbônico na atmosfera é uma ameaça já muito presente à humanidade. É o que explica, entre outras iniciativas imensas e apressadas, a busca de energia limpa e o desenvolvimento de automóveis elétricos, com baixa ou nenhuma emissão de poluentes carbônicos.
Os olhos da geopolítica mundial já estão postos, e estarão cada vez mais, na preservação da Amazônia. Muito além do que se põem, como imaginado aqui, no poluente petróleo do pré-sal, cujo futuro a prazos médio e longo não se compromete muito com as previsões apregoadas.
Com razões inquestionáveis, a geopolítica mundial descrê da salvaguarda da floresta amazônica pelo Brasil. Convicção que dispensa menções ao seu significado para o futuro.

ATÉ
Desejo-lhe que faça o melhor proveito, como merece, das minhas férias.


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