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PRESIDENTE 40 ELEIÇÕES 2010
Jogando na retranca
Candidatos evitam aprofundar propostas econômicas para escapar de controvérsias e não alimentar desconfianças
RICARDO BALTHAZAR
DE SÃO PAULO
Os dois discursos que o
candidato do PSDB à Presidência, José Serra, apresentou na segunda-feira passada à Justiça Eleitoral como resumo de seus planos de governo somam 6.700 palavras. Ele usou apenas 517 para dizer o que pretende fazer
com a economia do país.
A petista Dilma Rousseff
entregou um documento de
23 páginas, das quais 5 enumeram suas prioridades para
a economia. Vistas de perto,
oferecem só uma lista de objetivos genéricos, sem uma
exposição das medidas necessárias para alcançá-los.
Os líderes da corrida presidencial têm se esforçado para evitar controvérsias no
campo econômico. Com o
país crescendo em ritmo acelerado e a sensação de bem-estar da população em alta,
ninguém quer dar a impressão de que fará mudanças.
As discordâncias entre os
políticos sobre o rumo a seguir são menores hoje do que
em eleições anteriores. Um
levantamento feito pela Folha com base em discursos e
entrevistas dos candidatos
mostra que as diferenças entre suas ideias são em geral
sutis (veja o quadro ao lado).
Os principais candidatos
prometem manter as políticas que têm assegurado a estabilidade da economia brasileira há uma década, pregam mudanças no sistema
tributário e falam em estímulos para os investimentos.
Os presidenciáveis se
comportam assim porque
precisam inspirar confiança.
Dilma passou a elogiar o
Banco Central com frequência, abandonando as críticas
que fez no passado. Ela espera que isso a ajudará a eliminar as dúvidas existentes sobre sua fé na política econômica de natureza conservadora adotada pelo governo.
O mesmo acontece com
Serra. Ele tem moderado
seus ataques ao BC, numa
tentativa de superar o mal-estar gerado pelas críticas
que fez em maio à demora
com que a instituição baixou
os juros no auge da crise internacional de 2008-2009.
INCERTEZAS
"Mudanças que afetem a
autonomia que o BC tem
atualmente ou comprometam o trabalho que ele vem
fazendo não são sustentáveis", afirma o professor Márcio Holland, da Escola de
Economia da Fundação Getulio Vargas em São Paulo.
Serra promete coordenar
de forma mais eficaz a política econômica do governo para evitar desencontros entre
o BC e o Ministério da Fazenda, como os que se tornaram
comuns nos últimos anos, e
sempre cita como modelo o
sistema adotado no Chile.
O ministro da Fazenda
participa das reuniões do BC
chileno, onde não tem voto,
mas pode manifestar opiniões. O BC do Chile tem poderes mais amplos que os do
BC brasileiro e seus diretores
têm mandatos de dez anos.
A possibilidade de replicar
esse modelo no Brasil é vista
com ceticismo entre colaboradores de Serra. Eles têm debatido mudanças no funcionamento do Conselho Monetário Nacional, onde o BC e a
Fazenda votam, e outros mecanismos de coordenação.
Mas a discussão interna
ainda está num estágio muito preliminar e é improvável
que seja levada a público pelo candidato, por causa das
incertezas que poderia alimentar, de acordo com um
membro da equipe de Serra.
Dilma tem mantido distância desse tipo de conversa.
Ela se limita a dizer que o sistema atual funciona bem e
que não vê nenhum motivo
para alterá-lo, ou para reforçar a autonomia do BC com
mudanças na legislação.
TIMIDEZ
Serra e Dilma têm expressado visões diferentes sobre
o papel que o Estado deve ter
na viabilização de novos investimentos em infraestrutura, uma área que os especialistas consideram crítica para
sustentar o crescimento do
país nos próximos anos.
Mas nem sempre os candidatos deixam claras as diferenças que os separam, como
demonstra a timidez com que
eles participaram nos últimos meses do debate sobre a
exploração do petróleo descoberto na camada pré-sal.
Dilma foi uma das principais formuladoras do sistema proposto pelo governo,
que reserva para a Petrobras
um papel central no desenvolvimento dos novos campos de petróleo e inibe a participação de empresas privadas e grupos estrangeiros.
Quando o assunto foi discutido no Congresso, as lideranças do PSDB defenderam
a manutenção do modelo de
concessões usado nas áreas
que começaram a ser exploradas antes da descoberta do
pré-sal, o que daria mais
oportunidades para os concorrentes da Petrobras.
Mas Serra nunca manifestou em público sua opinião
sobre o tema. "Esse debate é
uma armadilha para a oposição", diz o cientista político
Christopher Garman, da consultoria internacional Eurasia. "Qualquer coisa que ele
diga, vão acusá-lo de querer
enfraquecer a Petrobras e entregar as riquezas do país."
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