São Paulo, sábado, 11 de setembro de 2010

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Casal tentava legalizar quebras, diz polícia

Funcionária de Mauá e marido procuravam contribuintes para "esquentar" possíveis violações

Servidora afirma que buscou assinaturas em documentos para acesso sob orientação da corregedoria da Receita


MARIO CESAR CARVALHO
ROGÉRIO PAGNAN
DE SÃO PAULO

A Polícia Civil de São Paulo encontrou indícios de que a servidora da agência da Receita Federal em que o sigilo fiscal de tucanos foi quebrado estava tentando legalizar a situação de outros casos de aparente violação.
Ana Maria Cano, funcionária da Receita em Mauá, na Grande São Paulo, está sob investigação sob suspeita de ter acessado a declaração de renda de Eduardo Jorge, vice-presidente do PSDB.
Foi no escritório de Mauá que cinco pessoas ligadas ao candidato tucano à Presidência, José Serra, tiveram seu sigilo fiscal violado. O marido da servidora da Receita, José Carlos Cano Larios, tem um escritório de contabilidade em Mauá, onde a polícia achou anteontem 23 procurações para acesso a dados fiscais.
O delegado Marcos Carneiro, do Departamento de Polícia Judiciária da Macro São Paulo, diz acreditar que esses documentos não haviam sido autorizados pelos titulares dos CPFs, o que pode caracterizar o crime de quebra de sigilo fiscal.
A polícia chegou ao lote de procurações porque um aposentado de Mauá, Edson Pedro dos Santos, foi à 1ª delegacia daquela cidade relatar que o contador o procurara para que assinasse uma procuração para acesso a seu Imposto de Renda.
Santos contou à polícia que achou estranho o pedido porque não tinha nenhuma pendência com a Receita.

ACUSAÇÃO À RECEITA
A Polícia Civil levou então o contador e a funcionária da Receita à delegacia de Santo André, que investiga a falsificação da procuração que foi usada para violar o sigilo fiscal de Veronica Serra, filha de Serra (PSDB). O casal não chegou a ser preso. Foi conduzido à delegacia para prestar esclarecimentos.
Lá, Ana Maria disse que seu marido procurava as pessoas para assinar a procuração por orientação da corregedoria da Receita Federal. A versão dela ressalta que havia uma operação da Receita para abafar as ilegalidades cometidas em Mauá.
A corregedoria diz que a acusação é uma tentativa de desqualificar a investigação do órgão sobre Ana Maria. A Polícia Civil afirma que vai encaminhar as informações colhidas com o contador e com a servidora da Receita para a Polícia Federal, já que o suposto crime praticado é de competência federal -violação de sigilo fiscal.
No último dia 1º, a Folha revelou que o escritório de contabilidade onde foram achadas as procurações usava a servidora da Receita para agilizar processos. A reportagem localizou ontem um empresário que teve uma procuração em seu nome apreendida no escritório de contabilidade.
Leone Mariano, que vive em Ribeirão Pires, cidade vizinha a Mauá, diz que nunca teve contato com o contador onde está a procuração em seu nome. "Esse contador está desesperado para falar comigo há uma semana." Mariano diz que seu contador pode ter pedido um favor à servidora da Receita sem ter feito a devida procuração -daí a insistência do marido.

Colaboraram LEONARDO SOUZA e FERNANDA ODILLA, de Brasília



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