São Paulo, segunda-feira, 11 de outubro de 2010

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Candidatos divergem sobre ensino técnico

Dilma defende profissionalização integrada ao ensino médio regular; Serra propõe curso puramente técnico

Adversários querem expandir área; cada modelo tem prós e contras, de acordo com especialistas

RICARDO WESTIN
DE SÃO PAULO

Tanto Dilma Rousseff (PT) quanto José Serra (PSDB) defendem a multiplicação do ensino profissionalizante.
Ela promete abrir escolas técnicas nas cidades com mais de 50 mil habitantes. E ele, criar 1 milhão de vagas.
É a etapa da educação voltada para quem quer se especializar numa área -eletrônica, mecânica, informática, enfermagem etc.- sem cursar uma faculdade.
Embora pareçam concordar plenamente nesse ponto, Dilma e Serra em nenhum momento avisaram ao eleitor que suas concepções de ensino técnico são bem diferentes, quase opostas.
Ela propõe que a escola tenha cursos técnicos misturados com o ensino médio (antigo 2º grau). O aluno faz um só curso e tem dois diplomas.
Ele defende que a escola tenha exclusivamente cursos técnicos. Para entrar, o aluno deve já ter concluído ou ao menos estar cursando (em outra escola) o ensino médio.
Dilma se espelha nas escolas técnicas federais. Serra, nas estaduais de São Paulo.
Especialistas em educação encontram vantagens e desvantagens em cada modelo.
A escola de Dilma, como ponto forte, ajuda a reduzir os elevados índices de abandono do ensino médio. As disciplinas práticas profissionalizantes -ao contrário das teóricas do ensino médio- conseguem manter os alunos motivados.
"Não é um mero treinamento de habilidades. O aluno aprende [no médio] as bases científicas e epistemológicas do conhecimento [técnico]. Não é só fazer; é pensar. É uma formação mais completa", diz Remi Castioni, professor da Faculdade de Educação da UnB.
Por outro lado, a escola técnica do PT tem mais dificuldade para atualizar seus currículos. Qualquer mudança exige adaptações também na grade do ensino médio.
"E o ensino técnico, como segue o mercado de trabalho, requer atualizações constantes", diz Nacim Chieco, ex-presidente do Conselho Estadual de Educação de SP.
O modelo de Serra é mais barato. Uma vez que não há ensino médio e os cursos são rápidos (um ano e meio, ante os quatro anos do ensino integrado), é preciso ter menos professores e salas de aula. A expansão é mais fácil.
Entretanto, a falta do ensino médio integrado obriga os jovens que não têm diploma médio a fazer dupla jornada: no colégio de manhã e na escola técnica à tarde.
"O modelo de SP tem preocupação excessiva com reduzir custos. A formação do estudante é aligeirada. Os professores não conseguem desenvolver bem seus programas", diz Maria Sylvia Bueno, professora da Unesp e organizadora de um livro sobre as escolas técnicas de SP.
De qualquer forma, como exceção, a escola de Serra tem uma pequena parte das vagas no modelo petista. E a escola de Dilma, algumas vagas no modelo tucano.
Para Francisco Cordão, um dos presidentes do Conselho Nacional de Educação, os candidatos erram ao focar um só modelo: "São complementares e têm de conviver".


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