São Paulo, quinta-feira, 11 de novembro de 2010

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JANIO DE FREITAS

Mulheres


Os homens levam para o governo o ranço da política infiltrada nos passos de suas carreiras; não deu certo

SEM TER FEITO ainda uma primeira-ministra, que lá se diria "presidente do governo", a Espanha é, no entanto, a sociedade mais avançada em reconhecimento, às mulheres, dos atributos para o exercício no poder até do cargo mais improvável. E comprovam sua tese.
Presidentes e primeiras-ministras, boas ou nem tanto, já se tornaram tão sem novidade que ocorrem mesmo na América do Sul. Os Estados Unidos do último Bush tiveram seu único toque de inovação com uma mulher, e negra, como secretária de Estado, à frente do alcance mundial do Departamento de Estado. Ainda foi pouco, como avanço, para o realizado na Espanha.
Moça, talvez beirando ou pouco ultrapassando os 40, simpática e de elegância discreta como a elegância de fato, Carme Chacón exerce no governo de José Luiz Zapatero o cargo de ministra da Defesa.
No lugar dos marechais e dos generais de sempre, cujos peitos e, não raro, já as barrigas pareceram-se a caóticos jardins floridos de condecorações ninguém sabe por quê, Carme Chacón exerce autoridade jamais contestada e competência reconhecida. E não o faz sobre Forças Armadas insignificantes: as organizações militares espanholas são hoje moderníssimas, com infraestrutura e equipamentos muito avançados, grande parte com produção nacional. E aprimoramento cultural como talvez nenhum outro país realize.
A Espanha é hoje um aliado de êxito em missões internacionais humanitárias e, na Ásia, em missões bélicas como no Afeganistão.
A revolução nas tradições militares e nos costumes políticos foi levada, na Espanha, até a aceitação, como fato perfeitamente normal e louvável, que a ministra da Defesa, casada, se desse à realização mais extrema de sua feminilidade: engravidou e deu à luz em pleno exercício do comando das Forças Armadas.
Aqui, onde os dois ministros civis da Defesa que não se submeteram aos militares perderam os cargos (José Viegas e Waldyr Pires), começa alguma discussão sobre a possível presença mais numerosa de mulheres, em cargos de relevo, no governo de Dilma Rousseff. "O Brasil não tem muitos quadros femininos habilitados", "isso pode prejudicar a base do governo no Congresso", "será muito difícil compor politicamente o governo, com tantos ministérios para mulheres técnicas" -e segue a ladainha.
A primeira e melhor experiência do novo governo provavelmente estaria nesta renovação dupla: maior número de mulheres e procedentes de áreas técnicas, científicas ou intelectuais. Ou seja, sem a concepção predominante do componente político dos seus cargos.
Mesmo que não políticos, mas ocupantes dos cargos superiores na empresa privada ou pública, os homens levam para o governo o ranço da política quase sempre infiltrada nos passos de suas carreiras. Não deu certo.
O hétero está fora de moda, mas, se me permitem, mulheres e mais mulheres.


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