São Paulo, domingo, 12 de setembro de 2010

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JANIO DE FREITAS

Um outro sigilo


O componente eleitoral sufocou o componente social e o democrático atingidos pelas violações


CORRETA MAS INCOMPLETA. Marina Silva, quase sempre com respostas ponderadas e de inteligência até brilhante, mesmo para questões que lhe seriam embaraçosas como aborto e união gay, deixou uma para ser completada, ou não, ao acaso. Mas o complemento não é desprovido de questões significativas.
A quebra de sigilos recebeu de Marina Silva a observação de que, "lamentavelmente, a manifestação do presidente", a respeito, só se interessou pela "defesa de sua candidata, e não dos milhares de brasileiros que tiveram seus sigilos fiscais quebrados". O presidente e os meios de comunicação também, faltou dizer por vontade ou para não perder a linha de crítica a Lula.
A violação dos sigilos tem implicação eleitoral inegável. O primeiro dever do presidente da República em eleições é presidi-las, tenha ou não candidatura de sua preferência, e presidir implica o mesmo compromisso com todos os presididos. Por sua vez, jornais, TV, rádio e revistas atribuem-se deveres e compromissos que são a contrapartida da liberdade de todos eles e da concessão de bem público - os canais - de que parte deles é beneficiária. Guardadas as diferenças funcionais, deveres e compromissos com o público equivalem-se nas duas instâncias.
Tais deveres e compromissos estão relegados, igualmente, no nível da instituição pública e da atividade privada. O componente eleitoral sufocou o componente social, o constitucional e o democrático atingidos pelas violações de sigilos. Os quais não são apenas os de familiares e algumas pessoas ligadas a um candidato, mas, como disse Marina Silva, "de milhares de brasileiros". Um crime de dimensão nacional, de proporções que nem se imagina, como também se ignoram as consequências criminais e silenciosas que já produziu.
Em sua participação eleitoral, até agora a quebra de sigilos só gerou efeitos sobre o lado das vítimas. Efeitos favoráveis, embora relativos. Nenhum uso negativo foi feito contra José Serra. Contra os cidadãos comuns, porém, a violação do sigilo é, por si só, uma violência de alcances coletivos. Tão mais grave quanto a utilização que faz do Estado contra os cidadãos. O aspecto eleitoral do problema pode ser usada em favor de um candidato, mas todos que o fazem estão apegados a combater apenas o componente menor e efêmero do crime. E em dívida, com o país, de dimensão idêntica à do próprio problema.

DOIDOS
A potência mais armada do planeta de repente treme de medo, e seus comandantes guerreiros assustam-se com o risco às tropas distantes, porque um único de seus cidadãos dispara a ideia solitária de fazer uma fogueira de livros. Imitação de um pequeno maluco à loucura da grande parte ensandecida de um povo europeu, décadas atrás.
O estigma das potências: quanto mais poderosas, pior a fragilidade.

NA GARUPA
Este slogan "Serra fez, Geraldo vai continuar" não diz, com nomes mudados, exatamente aquilo que Serra e o PSDB condenam na candidatura adversária?


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