São Paulo, domingo, 12 de setembro de 2010

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Servidora viu dados de 248 filiados a siglas

Adeildda Ferreira dos Santos acessou cadastro de 38 membros do PMDB, 29 do PSDB, 29 do DEM e 13 do PT

Ex-senador Fernando Bezerra, que apoiou os governos FHC e Lula, diz que operação "cheira a trabalho de quadrilha"

DE BRASÍLIA

Investigada sob suspeita de quebra do sigilo fiscal de pessoas ligadas ao PSDB, a servidora Adeildda Ferreira dos Santos acessou, de agosto a dezembro de 2009, dados de 248 pessoas que aparecem na relação oficial do Tribunal Superior Eleitoral como filiadas a partidos.
Entre os que tiveram os dados acessados por ela está o ex-senador Fernando Bezerra (RN), que foi ministro da Integração de Fernando Henrique Cardoso e líder do governo Lula no Congresso.
Levantamento feito pela Folha na lista de 2.949 CPFs acessados por Adeildda na agência da Receita em Mauá no período mostra que ela consultou dados de filiados de vários partidos, a maioria do Estado de São Paulo.
Os principais alvos foram filiados ao PMDB (38), ao PSDB (29) e ao DEM (29). O PT aparece com 13 casos.
A checagem dos dados mostrou, entretanto, que a grande maioria dessas pessoas tem atividade política inexpressiva, sendo que também há possibilidade, em alguns casos, de se tratar de homônimos daqueles que aparecem nas listas do TSE.

EX-SENADOR
No caso de Fernando Bezerra, as informações vasculhadas são do Sistema Integrado de Cobrança da Receita. O CPF dele consta na lista de dados acessados em 21 de setembro de 2009 às 13h02 na agência da Receita em Mauá, a 2.915 quilômetros de onde o ex-senador vive.
Recém-filiado ao PMDB e afastado de cargos públicos há quatro anos, o ex-ministro confirmou ser seu o CPF e disse que não entende por que teriam acessado seus dados. Ele assegura que nunca solicitou nenhuma informação à Receita em São Paulo.
"Estou fora da política e não sei qual seria o interesse de vasculhar meus dados. Isso cheira a trabalho de quadrilha", afirma Bezerra, que é empresário em Natal (RN).
O ex-senador se diz amigo de Eduardo Jorge, vice-presidente do PSDB que teve o sigilo fiscal violado no mesmo computador usado para acessar os dados dele.
Outras cinco pessoas ligadas ao PSDB tiveram os dados cadastrais acessados e a declaração de renda impressa de forma ilegal. Entre eles estão Luiz Carlos Mendonça de Barros, ex-ministro de FHC, e Antonio Russo Neto, suplente da senadora Marisa Serrano (PSDB-MS).
Antonio Contini, prefeito de Sinop (MT) de 1993 a 1996 e filiado ao DEM, diz ter ficado surpreso ao saber, pela reportagem, do acesso a seus dados cadastrais em Mauá.
"Se eu souber que eles estão [acessando indevidamente os dados], lógico que eu pretendo entrar na Justiça. Com que interesse a Receita está fazendo isso? Eu não devo nada", disse.
Contini levanta uma hipótese para eventual "bisbilhotagem". "Meu nome esteve cogitado para candidato a vice na chapa para o governo do Estado, apoiando o candidato do PSDB", diz ele.

PETISTA NA LISTA
Filiada ao PT de Mauá, a auxiliar de enfermagem Raquel da Silva Marron disse que não pediu à Receita informações sobre seu Imposto de Renda. "Não pedi nada, nem estou sabendo disso."
Desempregada, Raquel disse não acreditar que seus dados tenham sido acessados por motivações políticas. "Eu não tenho contato com o partido." Apesar da filiação partidária, ela afirma que seus familiares apenas trabalham "pedindo votos e fazendo militância" para políticos do PT de Mauá sem nunca terem ocupado cargos eletivos.
Raquel disse que não conhece nenhum dos envolvidos no episódio das quebras de sigilo na Receita de Mauá e atribui todo o escândalo "ao partido adversário".


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