São Paulo, terça-feira, 12 de outubro de 2010

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JANIO DE FREITAS

Candidatos à mostra


Num confronto de caubóis hollywoodianos, Dilma e Serra ao menos tiveram o mérito de mostrar como são

SEM IDEIAS, ainda e parece que para sempre. Por todo o tempo, um confronto de caubóis hollywoodianos em versão palavrória. Apesar disso, Dilma Rousseff e José Serra levaram ao debate na Bandeirantes uma novidade que exprime mais respeito pelo eleitor e pela eleição. Foram ambos mais sinceros com sua maneira de ser e, portanto, de mostrar-se. Com sua indignação, a aspereza, a vontade mal contida de atacar mais fundo.
Dilma ofereceu ao eleitor uma revelação maior que a de Serra, já conhecido em seus modos hostis e notabilizados, para o eleitorado, em sua disputa com Lula na eleição de 2002. O desempenho da corrente serrista na internet, aliás, não se diferencia muito, agora, do que fez por outros meios naquela eleição. Desse uso da internet resulta grande parte da matéria-prima que tem rebaixado a disputa pelo Presidência.
Não há nada menos ruim a esperar da sordidez que explora a internet, mas Serra comprovou que se sai muito melhor na autenticidade do que na inconvincente representação do Serrinha Paz e Amor, que confirmou sua sorte ao desistir do velho desejo de ser ator.
Dilma Rousseff, até o recente debate, não estava melhor, no contraste entre a arrogância do seu topete e a tolerância, quase mansuetude, com que aceitava as adversidades lançadas por adversários. Essa conduta já aparecia como falta de respostas, fosse por não dispor delas, fosse pela incapacidade pessoal de formulá-las. Por mim, só posso dizer que recebi de Dilma Rousseff tratamento muito gentil, quando desejou fazer esclarecimentos. Mas sua crônica não é assim. É a de impaciência frequente e de modos mais do que incisivos de manifestá-la. Tal como Serra, estava mal no papel que a marquetagem lhe impôs.
O espectador de debates ficou menos exposto ao engodo de personalidades fabricadas, com más ferramentas. Sem, por isso, livrar-se de um porém: os futuros debates estão ameaçados de apenas trocar o vazio mal teatralizado pela repetitiva troca de tiroteios. Para o eleitor de um presidente, não menos vazios do que os confrontos anteriores.
Há muito a discutir-se sobre modo e sentido das eleições presidenciais. A começar, pode ser, pelos chamados debates.

DÚVIDA
A fidelidade de uma pesquisa às respostas recebidas e a franqueza das respostas dadas pelos pesquisados não são a mesma coisa. Pode até ocorrer de serem idênticas, mas disso não há certeza, jamais.
A observação vem a propósito do baixíssimo índice captado de mudanças de voto, de Dilma Rousseff para outro candidato, por indução de orientadores religiosos. Entre os praticantes de religião, razões variadas, de psicologia e de religiosidade, tanto levariam a não se sentir bem com a confissão da obediência fácil, como ao temor de comprometer, de algum modo, o chefe religioso.
Embora esparsas, as notícias de interferência eleitoral de bispos, padres e pastores, por TV e rádios, nos púlpitos e nos palcos, montam um todo influente a que a prática religiosa mais elementar, e mais numerosa, não poderia ficar isenta. Ou não poderá.


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