São Paulo, terça-feira, 12 de outubro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Omissões marcam debate sobre pré-sal

Candidatos defendem Petrobras e evitam discutir papel de grupos estrangeiros em novos campos de petróleo

Ex-ministra deturpa declaração de assessor tucano, e Serra tenta se distanciar de modelo que partido defende

RICARDO BALTHAZAR
DE SÃO PAULO

Os dois candidatos à Presidência esconderam o jogo no debate de domingo ao discutir o futuro da Petrobras e a participação de grupos privados na exploração dos campos de petróleo do pré-sal.
A petista Dilma Rousseff afirmou que o tucano José Serra tem a intenção de "privatizar" os novos campos de petróleo, mas omitiu o fato de que o sistema que ela defende também permite que empresas privadas se associem à Petrobras no pré-sal.
Serra prometeu "fortalecer" a Petrobras, mas não pronunciou uma palavra sobre o modelo proposto por seu partido, que obrigaria a Petrobras a competir com grupos estrangeiros para ter acesso às novas reservas.
Foi Dilma quem introduziu o assunto no debate, citando de maneira deturpada uma entrevista recente do ex-diretor-geral da ANP (Agência Nacional do Petróleo) David Zylbersztajn, colaborador da campanha de Serra.
Dilma disse que Zylbersztajn é "a favor da privatização do pré-sal", mas na entrevista ele se limitara a defender a manutenção do modelo de concessões em vigor desde 1997, que força a Petrobras a competir com as multinacionais do setor em leilões organizados pelo governo.
O sistema proposto pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o pré-sal, que ainda depende da aprovação do Congresso para ser adotado, prevê que a Petrobras ganhará pelo menos 30% dos novos campos e será a principal responsável pelos investimentos que serão feitos.
Esse modelo inibe a entrada de grupos estrangeiros no pré-sal, mas não a proíbe. Multinacionais e companhias brasileiras como a OGX, do bilionário Eike Batista, poderão se associar à Petrobras nos futuros leilões.

CONTROLE
O governo decidiu mudar as regras para abocanhar uma fatia maior dos lucros que espera extrair do pré-sal. Ele também quer ter mais controle sobre o ritmo dos investimentos e a escolha dos fornecedores de sondas, navios e outros equipamentos.
Mas a Petrobras não tem capacidade financeira para explorar sozinha as gigantescas reservas do pré-sal. Por isso os tucanos defendem a manutenção do sistema de concessões, mais atraente para grupos estrangeiros.
Serra lembrou no domingo que o presidente do PT, José Eduardo Dutra, que presidiu a Petrobras no início do governo Lula e agora é um dos coordenadores da campanha de Dilma, elogiou no passado as mudanças feitas pelos tucanos no setor de petróleo.
Mas Serra não se comprometeu com nenhum dos modelos em discussão e preferiu se distanciar das opiniões de assessores como Zylbersztajn. "Eu tenho cabeça própria", disse, sem esclarecer o que vai fazer se for eleito.
"Serra tem medo desse debate", afirmou o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura, Adriano Pires, outro colaborador dos tucanos. "Qualquer crítica é encarada como se você estivesse torcendo contra a seleção brasileira na Copa do Mundo."


Texto Anterior: Mauro Paulino: Erros sobre erros
Próximo Texto: Debate é menos visto que o de Lula e Alckmin
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.