São Paulo, quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Governo calcula que dólar irá a R$ 2 no início de 2012

Fazenda prevê que câmbio beneficiará indústria sem pressionar a inflação

Presidente voltou de sua viagem à Europa alarmada com os desdobramentos da crise financeira global

LETÍCIA SANDER
NATUZA NERY
SHEILA D'AMORIM

DE BRASÍLIA

O governo já trabalha com a possibilidade de a taxa de câmbio chegar ao patamar de R$ 2 ao longo do primeiro semestre do ano que vem.
O cenário foi mencionado pelo ministro Guido Mantega (Fazenda) em reunião anteontem com a presidente Dilma, outros colegas de ministério e líderes políticos.
Segundo a Folha apurou, o governo não pretende interferir para que isso aconteça, mas também não vê a situação como uma tragédia.
Ao contrário, as avaliações dentro da equipe econômica são de que, se a cotação da moeda americana romper essa barreira, será um movimento natural, até favorável à indústria brasileira e com pouco ruído para a inflação.
Nas palavras de um integrante do governo, enquanto para a inflação "o prejuízo é pequeno no curto prazo", para as empresas o cenário de câmbio a R$ 2 é desejável.
A avaliação é que o dólar a R$ 1,50 era insustentável e "a R$ 1,90 não resolve a situação da indústria", que sofre com os produtos importados.
Para os presentes à reunião, o discurso de Mantega estava em "total sintonia" com Dilma, que voltou da viagem à Europa alarmada com a crise financeira mundial.

INDÚSTRIA
Dentro do governo, a necessidade de aumentar os esforços para defender a competitividade da indústria nacional, sobretudo em 2012, ganha espaço nas discussões.
O ponto principal é a queda no crescimento mundial esperada para o ano que vem. Na interpretação da área econômica, ela será forte e terá impacto ainda maior no Brasil se for seguida por uma desaceleração brusca na China.
Com menos gente comprando, o esforço de quem precisa vender seus produtos terá que ser maior e os preços, mais atrativos. O câmbio desvalorizado no Brasil garantiria mais competitividade aos produtos brasileiros.
Do outro lado, a desvalorização do real também faria os preços no país subirem, dificultando o trabalho do Banco Central para controlar a inflação. O índice corre o risco de estourar o teto da meta de 6,5% neste ano e ficar acima do planejado em 2012.
Nesse ponto, o entendimento da área econômica é que um movimento para cima do câmbio, em função da piora no cenário externo, não viria desacompanhado.
Na equação da equipe de Mantega, ele seria combinado pela queda nos preços das commodities em função de longo período de baixo crescimento nos EUA e Europa.
Técnicos reconhecem que o cenário é de muita volatilidade externa e que a crise acrescentou ingredientes que dificultam fazer previsões. Mas ressaltam que a história recente mostra que o cenário não está longe da realidade.
Citam a crise de 2008, quando o dólar saiu do patamar de R$ 1,5 para mais de R$ 2,4, o governo elevou seus gastos, a taxa de juros caiu, o preço das commodities baixou e a inflação recuou 1,6 ponto percentual em um ano.


Texto Anterior: Fazenda admite que PIB de 2011 não atingirá 4,5%
Próximo Texto: FOLHA.com
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.