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Oposição discorda de FHC e defende foco no "povão"
Aécio se diz otimista na capacidade do PSDB atrair eleitor com menor renda
Para Serra, a polêmica não traduz essência do artigo do ex-presidente, com a qual concorda em
"gênero, número e grau"
CATIA SEABRA
DE BRASÍLIA
VERA MAGALHÃES
DANIELA LIMA
DE SÃO PAULO
Líderes da oposição, entre
eles Aécio Neves (PSDB-MG),
discordaram ontem do teor
do artigo em que o ex-presidente Fernando Henrique
Cardoso propõe que desistam do "povão" para investir na nova classe média.
Já o ex-governador José Serra fez vários elogios ao
texto e disse que este não é o "ponto essencial" do texto.
Em "O papel da oposição", escrito para a revista "Interesse Nacional" e antecipado
ontem pela Folha, FHC diz
que "enquanto o PSDB e seus
aliados persistirem em disputar com o PT influência sobre os "movimentos sociais"
ou o "povão", isto é, sobre as
massas carentes e pouco informadas, falarão sozinhos".
Aécio elogiou o texto, mas se disse "mais otimista" que
FHC quanto à chance de conquista dos eleitores de baixa
renda. O tucano mineiro afirmou que "é preciso se inserir
no Nordeste" e se aproximar dos movimentos sociais.
Ele disse que, em Minas, o PSDB teve apoio "maciço"
desse segmento nas últimas
eleições. "O próprio governo
do presidente Fernando Henrique possibilitou a maior
transição de classes já vivida
no Brasil, muito além do que
o Bolsa Família tem proporcionado, que foi o fim da inflação", afirmou.
Serra disse à Folha que
compartilha em "gênero, número e grau" com a "essência" do artigo: "O problema
do PSDB e da oposição é de
rumo, de clareza, de coerência. Como um todo, não se sabe bem o que o partido defende, nem de que lado está".
O ex-governador de São
Paulo também concorda com
o ex-presidente "quando ele
adverte para o fato de que as
oposições não conseguirão
disputar com o PT o aparelhamento do Estado, porque
a nossa vocação é outra".
Já líderes da oposição no Congresso discordaram do texto de forma mais aberta.
"Um partido tem de ter sensibilidade social. E ela deve ser voltada justamente às
camadas mais pobres", afirmou o líder do PSDB na Câmara, Alvaro Dias (PR).
O líder do DEM na Câmara, ACM Neto (BA), disse que a
oposição tem de "ampliar sua capacidade de se comunicar com todos os segmentos sociais" e "sair do Congresso e ganhar as ruas."
A avaliação dos tucanos é que a tese de FHC do foco na
classe média contraria a tentativa de Aécio e do governador Geraldo Alckmin, de consolidar uma marca social e se aproximar dos sindicatos.
Aliados de Alckmin evitaram críticas ao artigo. Avaliaram que, de fato, o partido não pode descuidar da classe média, mas também não pode deixar de investir em áreas onde não tem força.
O presidente do PSDB, Sérgio Guerra (PE), tentou minimizar a polêmica e disse que FHC foi mal interpretado,
pois apenas "constatou que é
mais fácil para a oposição se
comunicar com a classe média do que com os beneficiários do Bolsa Família".
Em entrevista à rádio CBN, FHC reafirmou o conteúdo
do artigo: "Em vez de permanecer num corpo a corpo permanente com o PT num terreno em que eles fincaram estacas, tem muitos setores da
sociedade que não estão representados e que têm aspirações", afirmou.
Em Maringá (PR), FHC voltou a dizer que "o PSDB precisa se aproximar de camadas sociais que não se interessam pela política".
Colaborou TATIANE SALVATICO, de Maringá
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