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"O PT pode ser salvo de si mesmo", diz sociólogo
Petista, doutor em sociologia foge do fundamentalismo político na internet
Autor do blog NPTO critica intelectualidade do partido e afirma que a sigla "não é mais corrupta" do que outras
UIRÁ MACHADO
DE SÃO PAULO
O blogueiro Celso Rocha
de Barros, autor do blog
NPTO - Na Prática a Teoria É
Outra, é figura rara na internet brasileira. "Meio esquerdoso", como se define, escreve sobre política, mas fica de
fora da polarização radical
entre "petralhas" e "PIGs"
que habitam a blogosfera.
Doutor em sociologia pela
prestigiosa Universidade de
Oxford (Inglaterra), Barros,
37, afirma que a polarização
na internet "é altamente contagiosa" e que "é difícil não
cair na tentação de radicalizar para o outro lado".
Na entrevista a seguir, ele
explica por que acredita que
"o PT pode ser salvo de si
mesmo", defende "abraçar a
social-democracia com entusiasmo", critica parte da intelectualidade petista e afirma
que "o PT não é mais corrupto que os outros partidos".
Folha - O seu blog parece não
cair na polarização radical
que, segundo vários estudos,
é a norma na blogosfera política. Você inclusive indica sites com visões diferentes da
sua. Como você vê o fundamentalismo político on-line?
Celso Rocha de Barros - Há,
sim, uma tendência à polarização que é altamente contagiosa. Você começa com uma
posição ponderada, mas
aparecem comentários tão
radicais e agressivos que é difícil não cair na tentação de
radicalizar para o outro lado.
Por exemplo, você começa
dizendo que tanto Lula quanto FHC fizeram bons governos (o que eu acho), mas que
Lula foi melhor (o que eu
também acho). Aparece alguém e diz que eu sou um petralha, que mato criancinha
nos campos de concentração
das Farc. É forte a tentação de
responder à altura.
Imagino que tenha petista
produzindo esse mesmo efeito em blogs de direita.
E por que você se mantém fora desse clima?
Os caras que estudam redes sociais já dizem: entre
pessoas iguais, grande parte
da informação que circula é
eco. Seria idiotice desperdiçar a oportunidade de conhecer outras perspectivas e
aprender novas coisas, e para isso a web oferece inúmeras oportunidades.
Lendo o NPTO, você vai
ver que minhas leituras são
bastante diversas. Boa parte
do que eu leio e comento é escrito por economistas.
Seria uma estupidez me recusar a aprender uma economiazinha lá no Alexandre
Schwartsman, como vou
aprender lendo o [Paul]
Krugman, o [Dani] Rodrik ou
o [Tyler] Cowen, que faz o
melhor blog do mundo (o
Marginal Revolution).
Até porque, como sempre
digo, eu sou um petista bem
mais simpático a essas coisas
do que a média de meus companheiros de partido.
Na sua apresentação do blog,
você diz acreditar que o PT
pode ser salvo de si mesmo. O
que você quer dizer com isso?
O saldo da experiência petista é bastante bom. O PT incorporou novos atores à vida
política como protagonistas.
Não como claque do oligarca
populista da vez, mas como
atores independentes.
Ainda não sabemos como
vai se comportar politicamente a massa de pobres ascendentes no pós-Lula, mas
é inegável que as chances de
que participem mais ativamente agora que escaparam
da miséria absoluta são bem
melhores do que antes.
O que não quer dizer, naturalmente, que obrigatoriamente se tornarão petistas.
O PT, por outro lado, sempre foi ideologicamente confuso. Em 1989, o socialismo
acabava no mundo todo e, no
Brasil, o PT quase ganhava
com um discurso que, se não
era de corte bolchevique, já
era claramente anacrônico.
Essa recusa de se aprofundar sobre 1989 foi o grande
pecado do PT e, em especial,
dos intelectuais petistas.
Quais foram as consequências dessa atitude?
Esse fechamento do discurso isolou o PT de forças
políticas que poderiam ter sido nossas aliadas, como o
PSDB, no início dos anos 90,
e importantes setores da
classe média.
E você vê o partido caminhando nessa direção?
Depois do sucesso do governo Lula, acho que essa
oportunidade está mais aberta do que nunca para o PT.
Precisamos abraçar a social-democracia com entusiasmo, construir o Estado de
bem-estar social brasileiro,
aprofundar nossa democracia, tirando a ênfase do velho
programa desenvolvimentista -que já rendeu o que tinha que render (e não foi
pouco)- e pensando em como vamos nos tornar produtores de tecnologia, que diálogo teremos com o que há de
mais moderno na economia.
Há dentro do PT um tipo de
pensamento maquiavélico
vulgar, do tipo "os fins justificam os meios", de forma que
a confecção de dossiês seria
visto como um caminho legítimo para proteger candidaturas petistas?
Não mais que nos outros
partidos, creio. Lembre-se do
episódio do Ricúpero escondendo dados em 94, ou das
pequenas e grandes fraudes
para eleger o Collor. Há poucas coisas, no mundo, menos
suspeitas de idealismo do
que a direita brasileira. O PT
não é, é óbvio, mais corrupto
que os outros partidos.
Por quê?
Entre os corruptos ou acusados de corrupção com
quem o PT se aliou, no setor
público ou no privado, não
há um que não tenha se aliado ao PSDB anteriormente
ou que com ele não voltasse a
se aliar em caso de vitória
serrista. Orestes Quércia ou o
Roberto Jefferson foram recebidas de braços abertos pela
oposição.
E, ao que tudo indica, os
petistas acusados de corrupção até agora eram todos movidos por ganância ou por
ambição política. Se alguns
deles racionalizam isso citando Lênin, bem, está longe
de ser a pior coisa que já se
fez citando Lênin -e é benfeito para o Lênin, pelas coisas que fez citando Marx.
Acho que quem propõe esse negócio pensa no José Dirceu, historicamente ligado a
Cuba e que se viu envolvido
em vários escândalos. Mas
não consigo pensar em algo
que o Dirceu tenha feito
-mesmo supondo, pelo bem
do argumento, que todas as
acusações contra ele sejam
verdadeiras- que não possa
ser explicado por ganância
ou ambição política.
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