São Paulo, sexta-feira, 14 de outubro de 2011

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JANIO DE FREITAS

Silêncio demais


Induzido pelo estilo da presidente, governo tem deixado de divulgar informações sobre assuntos que são do interesse da população

Nem que se transformasse em defeito grave, o que está longe de acontecer, a parcimônia de palavras dirigidas ao público pelo governo seria pior do que a inundação de sons roufenhos, e outros em tudo desmedidos, que nos encheram no governo Lula. Mas que nos conviria um tanto mais de sonoridade, não há dúvida.
A comunicação do governo não está insuficiente porque seja mal feita. Pode-se até dizer que é questão de estilo de governo. Induzido não só pelas maneiras da própria Dilma Rousseff, como também por sua expressa recomendação, logo ao empossar-se, de que os ministros se poupassem de declarações e entrevistas. A medida dessa poupança, porém -um sacrifício impiedoso para a maioria deles- requer mais considerações do que estilo ou recomendação.
Em atitude isolada, Guido Mantega, com a crise internacional, tem frequentado gravadores e câmeras quase a cada dia. Apesar das críticas azedas às mudanças de suas análises e presunções (em geral, no sentido inevitável do agravamento), o resultado de sua presença constante bastante é positivo. Transmite aos poucos preparados para o tema a ideia de segurança do governo e do país. E atenua o efeito do alarmismo disfarçado, e muitas vezes interessado, de muitos que têm acesso direto ou indireto aos meios de comunicação.
Mesmo que não precisem chegar a tanto, outros setores do governo devem alguma dose da conveniência, e até da obrigação, de prestar informações. São vários os assuntos em que a Presidência guarda silêncio demais sobre suas posições. Isso não impede o jornalismo, ou o que assim seja chamado, de produzir notícias à vontade sobre as posições do governo e da presidente com o truque fácil do tipo "interlocutores de Dilma informam que", "a presidente avalia que", "presentes à reunião contam que".
Interlocutores e participantes de reunião podem dar informações, sim, mas o cidadão não sabe distingui-los das invencionices constantes, e o silêncio do governo não as susta.
A política externa, por exemplo, padece da falta de informação pública. Não por má operação, mas por volume insuficiente. O Brasil passa, desde alguns anos, por transformações grandes nos conceitos e na prática das relações externas. Inclusive algumas diferenças, agora, sobre o que já eram diferenças. São assuntos difíceis para a prestação de informações, sim. Mas a ausência até dos esclarecimentos viáveis, sem reflexos nocivos nas relações diplomáticas, cria situações que, não raro, precisam recorrer a suposições e arriscar-se ao equívoco. Incidiram nesse estímulo as recentes abstenções do Brasil no Conselho de Segurança da ONU, a respeito da intervenção na Líbia e de censura à Síria.
No mundo em tantas transformações, e nele as transformações do Brasil, política externa passou a ser até assunto didático, para o exercício de cidadania. E creio mesmo que um revigorante para o longamente humilhado sentimento de soberania.
Nos ministérios das Comunicações, da Justiça, do Planejamento, e claro que em outros, correm assuntos que não se beneficiam necessariamente do silêncio. E dizem respeito ao interesse público. Não requerem declarações nem entrevistas para incorporar a sociedade, ao menos por conhecimento, ao seu papel na democracia. Para isso a opinião pública não espera mais do que as informações possíveis.



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