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No litoral de AL, casal almoça uma lata de sardinha
FÁBIO GUIBU
ENVIADO ESPECIAL A PORTO DE PEDRAS (AL)
ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER
DE SÃO PAULO
"Neste mês, a minha renda
foi zero", diz o descascador
de cocos Amaro Verçosa Ferreira, 44. De sua casa, no badalado litoral norte de Alagoas, ele vê extensas áreas de
mangue e coqueirais desaparecerem -mas só enxerga
um futuro de incertezas.
Desempregado, ele se
preocupa com as árvores
quase sem frutos e o aumento da concorrência no trabalho. Com a mulher, Amara
Maria do Nascimento dos
Santos, 44, Ferreira vive em
situação de indigência.
Mora numa casa de taipa
emprestada de um cunhado,
em Porto de Pedras (100 km
de Maceió), onde cerca de
90% dos moradores são pobres, segundo o Censo 2000
atualizado pela Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra
de Domicílios).
"Não lembro quando trabalhei pela última vez", diz
Ferreira. A mulher recebe R$
68 mensais do Bolsa Família.
Na sexta-feira, o almoço
deles se resumiu a uma lata
de sardinhas em conserva.
Na cozinha, há dez panelas penduradas na parede e
um fogão enferrujado. Não
há geladeira nem armários.
Na casa emprestada, de 30
m2, o piso é de terra batida e
está esburacado. Não há banheiro, e a água é trazida em
baldes de uma cacimba.
No telhado, uma antena
parabólica do cunhado de
Ferreira, que não é usada. O
casal não tem TV.
Os pescadores de Porto de
Pedras também vivem em situação de miséria.
É o caso de Flávio Bento de
Mesquita, 28, e Carlos Jorge
Wanderley Pinheiro, 43. Eles
vivem em casas de taipa com
as famílias e possuem renda
média de R$ 200 por mês.
Casados e com dois filhos
cada um, têm Bolsa Família,
mas dizem não levar uma vida digna. "Às vezes, falta comida", diz Mesquita.
Todos os entrevistados dizem ter votado na presidente
eleita Dilma Rousseff. O que
esperam do novo governo
pode ser resumido numa frase de Ferreira: "Uma casa e
renda para tocar a vida".
Na cidade mais rica do
país, São Paulo, os R$ 68 do
Bolsa Família ajudavam
Adriana Oliveira, 33, a complementar a renda familiar
-cerca de R$ 320.
Neste mês o dinheiro não
entrou. Ela foi tirada do programa porque a filha, doente, faltou na escola.
Ainda não se recadastrou.
Diz não ter dinheiro para tirar
fotos para os documentos.
Adriana mora com cinco
dos sete filhos no Itaim Paulista (zona leste de SP).
O marido e um filho estão
em uma clínica de reabilitação, "por coisa de drogas".
Adriana trabalha quatro
vezes ao mês com faxina. No
fim de semana, distribui panfletos de apartamentos.
Ela não lembra em quem
votou e ficou surpresa ao saber que Dilma prometeu erradicar a miséria. "Entendi que
ela não gostava de pobre!"
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