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Até ministério acha R$ 140 pouco para "definir" pobre
Secretária vê salário mínimo como ideal
DE SÃO PAULO
Tentar se tornar invisível a
pedintes ou assaltantes em
São Paulo custa R$ 140. Esse
é o preço médio da colocação
das populares películas escuras nos vidros de um carro.
R$ 140 é um valor considerado "muito baixo" até mesmo pelo Ministério do Desenvolvimento Social (responsável pelo Bolsa Família) para
se definir quem é pobre e pode receber o benefício.
Lúcia Modesto, secretária
nacional de Renda de Cidadania, diz que o ideal seriam
os R$ 510 do salário mínimo.
Apesar de R$ 140 ser considerado muito pouco, só nos
Estados do Norte e Nordeste
100% dos elegíveis ao Bolsa
Família estão atendidos. Nas
demais regiões, há 15% deles
ainda fora do programa.
Modesto diz que há "o
compromisso, a meta", de se
erradicar a pobreza e que o
ministério vem se preparando para isso há dois anos.
Com a divulgação do Censo 2010 no início do ano que
vem, o ministério pretende
ter um diagnóstico mais preciso de quantos são e onde
estão os pobres.
"Não é só com transferência de renda que vamos erradicar a miséria, mas com um
conjunto de políticas", diz.
Para o economista Marcelo Neri, chefe do Centro de
Políticas Sociais da FGV, o
novo governo deveria incrementar fortemente o Bolsa
Família com mais dinheiro
para perseguir a meta de erradicar a pobreza.
"Pode parecer utópico,
mas o caminho para isso é o
Bolsa Família", afirma.
Neri calcula que os R$ 21,3
bilhões anuais a mais que
hoje seriam necessários para
atingir a meta poderiam cair
à metade até 2014.
Isso porque boa parte da
redução da pobreza viria do
aumento da atividade econômica, do emprego e da renda.
Ricardo Paes de Barros, do
Ipea (Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada), ligado
ao Ministério do Planejamento, lembra que o Brasil já vem
reduzindo a pobreza à metade a cada cinco ou seis anos.
Mesmo considerando uma
possível desaceleração nesse
ritmo, Barros se diz otimista.
"Se sairmos de 15% de pobres na população total para
10% em quatro anos já é algo
sensacional. Mas a meta de
cair de 15% para zero neste
período parece impossível.
Nunca ninguém fez isso."
"CIRCULO VIRTUOSO"
A economista Lena Lavinas, professora associada do
Instituto de Economia da
UFRJ, também defende "elevar a altura da barra" para a
definição do que é ser pobre.
Em sua opinião, deveria
entrar nessa categoria quem
vive com menos de 60% da
renda média familiar per capita (R$ 465). Isso equivaleria a R$ 279 (o dobro do critério usado no Bolsa Família).
Lavinas acha que o Bolsa
Família deveria ser um direito e que seus recursos (oriundos de impostos e contribuições indiretas vinculadas ao
consumo) aumentassem na
mesma proporção da evolução do mercado consumidor.
"Isso criaria um círculo
virtuoso de menos pobres,
mais consumo, maior arrecadação e mais dinheiro para
erradicar a pobreza", diz.
Segundo o instituto Data
Popular, o consumo das classes E e D no Brasil cresce rapidamente e já supera o total
da classe B em áreas como
alimentação, higiene, limpeza, vestuário e acessórios,
móveis e eletrodomésticos.
(FERNANDO CANZIAN)
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