São Paulo, domingo, 16 de janeiro de 2011

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Técnica, Dilma "esquece" recado político

Avaliação de ministros que participaram da 1ª reunião sob coordenação da presidente é que ela "confundiu" equipe

Plano do novo governo de não mandar para o Congresso uma agenda positiva de projetos foi considerado equívoco

SIMONE IGLESIAS
VALDO CRUZ
MÁRCIO FALCÃO
DE BRASÍLIA

Na primeira reunião com os 37 integrantes do primeiro escalão do governo, a presidente Dilma Rousseff foi clara nas orientações técnicas, mas deixou a desejar na mensagem política a ponto de confundir sua equipe.
A avaliação é de ministros que participaram do encontro, realizado na sexta-feira por cerca de quatro horas no Palácio do Planalto, em Brasília. Por seu caráter inédito, naturalmente suscitou comparações com o estilo do antecessor da presidente, Luiz Inácio Lula da Silva.
O temor de ministros é que o Congresso paute o governo, em vez do contrário, como todos eles consideram ideal. "Se o governo não der trabalho ao Congresso, o Congresso dará trabalho ao governo", afirmou um desses ministros à Folha.
As queixas partiram principalmente de ministros egressos do governo Lula.
Um deles afirmou que o ex-presidente costumava expor claramente o que esperava, politicamente, de cada área, o que não teria sido bem compreendido pela equipe após a fala de Dilma.
"Ele [Lula] determinava o que deveríamos fazer, dando claras orientações políticas. Dilma foi dispersa na abordagem", afirmou um ministro.
Os recados políticos a que se referiu são as negociações com o Congresso, tema que tomou boa parte da reunião ministerial. A presidente reafirmou que não encaminhará reformas estruturantes, como política e previdenciária.

AGENDA
O ministro Luiz Sérgio (Relações Institucionais) chegou a dizer, na reunião, que o governo não terá a iniciativa de mandar para o Congresso uma agenda positiva de projetos, o que foi considerado um equívoco por alguns presentes. Parte da equipe considera que negociar com os congressistas no "varejo" é um risco bastante grande.
Outra diferença marcante entre Dilma e Lula e que poderá afetar as relações com o Legislativo é a decisão da presidente em cortar gastos, e não contingenciar (congelar ou reduzir a liberação de recursos), como costumava fazer o antecessor.
O ex-presidente bloqueava recursos, mas, quando entrava dinheiro adicional, liberava seus ministros para negociarem o aporte com as bancadas. Na sexta-feira, Dilma foi clara ao dizer que depois de definidos os cortes orçamentários não haverá margem para revisões. Faz parte do esforço do governo em gastar menos.

DISCURSO UNIFICADO
Se na mensagem política Dilma deixou dúvidas, já na área técnica foi firme: disse que o encontro se tratava de uma reunião de "enquadramento" e transmitiu "ordem unida" mostrando-se inflexível quanto a brigas públicas entre subordinados.
As comparações com o antecessor não ficaram restritas à condução da reunião. Ministros apontaram que Lula se preocupava com o entrosamento do time e fazia questão de dar uma pausa nas discussões para integração. Cabia a dona Marisa organizar um almoço, momento em que os ministros aproveitavam para se conhecer mais e ganharem intimidade.
Já Dilma optou por reunir sua equipe depois do almoço e antes do jantar. A reunião de mais de quatro horas não teve grandes pausas.
Mas a diferença de estilo não quer dizer que a presidente seja avessa a brincadeiras. Ministros comentaram que ela estava bem humorada, mas aparentou incômodo com fala de assessores que apresentaram propostas mirabolantes. Ela também não gostou de auxiliares que discursaram em vez de resumirem as demandas de suas áreas.


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