São Paulo, domingo, 16 de janeiro de 2011

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Alckmin leva "irritação elegante" ao Bandeirantes

Estilo do governador de SP inclui almoços na rua e paixão por café e chocolates

Aliados destacam "bom ouvido" do tucano, que diz começar a segunda gestão mais "maduro" após derrotas eleitorais

DANIELA LIMA
CATIA SEABRA
DE SÃO PAULO

Até os políticos mais próximos a Geraldo Alckmin consideram um "risco" sair para almoçar com o governador sem antes combinar o destino. "Ele come qualquer coisa, em qualquer lugar. É uma desgraça", comenta um de seus secretários.
De previsível no cardápio do tucano há apenas dois itens: o já famoso café -ele prefere o coado ao expresso- e chocolates, que adora.
O governador sempre deixa os doces ao seu alcance. Mantém uma porção deles em seu gabinete no Palácio dos Bandeirantes.
Além dos chocolates e de um quadro de Rodrigues Alves, "o último presidente paulista", Alckmin levou para a sede do governo uma imagem de Nossa Senhora de Aparecida.
Muito católico, talvez por influência do pai, que foi franciscano, nunca deixa a santa para trás.
A devoção pela figura paterna se soma a uma série de diferenças que marcaram a mudança da tutela do Estado no Palácio dos Bandeirantes.
O ex-governador José Serra, também tucano, não pode com alho e cebola, o que limita seu leque de opções nas refeições. O ex-governador nutre devoção às mulheres de sua família -em especial, à avó e à mãe.
Já Alckmin faz do pai figura sempre presente em seus discursos. Carrega como espécie de talismã um bilhete escrito por ele na carteira.
Serra tinha predileção pelo silêncio. Alckmin tem um papagaio de estimação.
"No essencial eles são muito parecidos. Cobram, são exigentes, têm foco na gestão", afirma Sidney Beraldo, secretário da Casa Civil de Alckmin, que também integrou o governo Serra.
Alckmin é unanimemente descrito como um homem paciente, que sabe ouvir.
"Há quem considere isso uma perda de tempo, mas faz parte da natureza dele não menosprezar nenhuma opinião", afirma Silvio Torres (PSDB), aliado antigo e secretário de Habitação.
Andrea Matarazzo, da Secretaria de Cultura, confirma a impressão. "O Geraldo ouve o seu problema como se fosse o problema mais importante do dia dele."

"METÓDICO"
Além de paciente e bom ouvinte, o governador é "metódico". Anda de carro com o banco numa inclinação de quase 90º e tem mania de tomar nota de tudo o que julga ter alguma importância.
As anotações, assim como os chocolates, estão sempre à mão. No gabinete, mantém sobre a mesa um caderno do Santos Futebol Clube.
Alckmin é duro, quando fica irritado. Dizem que "vai no fígado", mas com elegância, "sem jogar o copo na parede". Para alguns, é repetitivo, o que às vezes incomoda quem está sempre com ele.
O governador prefere falar com assessores e políticos pessoalmente ou pelo telefone. Usa pouco o e-mail -ao contrário de seu antecessor.
"Ele gosta mais do telefone, mas está perdendo o medo da informática. Vive testando o iPad dos outros", conta Jurandir Fernandes, secretário de Transportes e fiel escudeiro do governador.

SEGURO
Instigado a fazer uma comparação entre o Alckmin de hoje e o que deixou o governo em 2006, o governador disse à Folha estar mais maduro e seguro.
É comum ouvir gente próxima atribuindo-lhe hoje mais desenvoltura e leveza do que na gestão anterior.
Alckmin credita parte da evolução às derrotas em recentes eleições. Para os aliados, o massacre em 2008, quando amargou o terceiro lugar na disputa pela prefeitura paulistana, foi o momento mais difícil de digerir na trajetória política.
Revigorado pela vitória em 2010, Alckmin quer deixar uma marca "social" neste governo e superar o que considera uma falha do PSDB.
Além da bandeira de erradicação da miséria, o governador desenvolveu uma pequena obsessão pelo corte de gastos.
"E ele passa essa coisa para a gente. Eu saio de reunião na secretaria apagando luz", diz o secretário Edson Aparecido, amigo do governador.


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