São Paulo, quarta-feira, 16 de março de 2011

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ELIO GASPARI

Querem fritar Guido Mantega


Botar ministro da Fazenda na frigideira é um dos caminhos mais rápidos para bagunçar a economia


SINAIS DE FUMAÇA partidos do Planalto informam que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, entrou na lista dos ministros bisonhos, na terrível companhia de Fernando Haddad, da Educação, e Ana de Hollanda, da Cultura. Não há indicação de que a malvadeza tenha partido da doutora Dilma Rousseff.
No entanto, num breve episódio ocorrido durante a reunião que teve com sindicalistas (supostos representantes dos trabalhadores), ela indicou uma ponta de insatisfação com o desempenho de seu ministro.
Falava-se do repique da inflação, e a presidente reclamou da maneira como Guido Mantega discute publicamente o assunto: "Fica dando explicação para porteiro de prédio".
"Porteiro de prédio" é sinônimo de patuleia, essa choldra que segurou a popularidade de seu antecessor, responsável pela sua eleição. Falando para os "porteiros de prédios", Lula conjurou parte dos efeitos da crise mundial de 2008/2009.
Toda vez que alguém é acusado de se comunicar mal, pode-se ter certeza: o problema é outro. No caso, diante de um quadro de dificuldades econômicas, Guido Mantega poderá se transformar no bode expiatório de plantão.
Dilma Rousseff sabe que, para tirar Mantega do Ministério da Fazenda, basta chamá-lo ao Planalto e entregar-lhe o bilhete azul. Não é preciso fritá-lo. Ele é um personagem monótono, mas em quatro anos de exercício do cargo nunca se apresentou como gênio da economia, queridinho do mercado ou comissário das finanças.
Muitas coisas boas sucederam na economia brasileira nas últimas duas décadas. Uma delas, nada trivial, foi o abandono da prática de se fritar ministros da Fazenda. Desde que Fernando Henrique Cardoso assumiu o cargo, em 1993, nenhum deles foi à frigideira. Rubens Ricupero e Antonio Palocci, dispensados em 1994 e 2006, foram episódios de autocombustão.
Em abril de 2008, Lula armou a guilhotina para decapitar Henrique Meirelles e convidou o economista Luiz Gonzaga Belluzzo para a presidência do Banco Central.
Dias depois do convite, a agência Standard & Poor's deu aos papéis brasileiros o grau de investimento, Nosso Guia festejou o "momento mágico" e esqueceu o assunto. Esse teria sido um caso de execução, jamais de fritura.
Houve uma relação de causa e efeito entre a desgraça dos ministros e a desordem econômica da segunda metade do século passado.
A frigideira do Planalto não provocava a bagunça, mas a alimentava. Itamar Franco fritou pelo menos dois; Collor deixou Zélia Cardoso de Mello no fogo por vários meses; Sarney fritou três. Fernando Henrique Cardoso fez de Pedro Malan o titular mais longevo da história da pasta.
Quando a mão invisível do mercado percebe que o ministro da Fazenda está balançando, mobiliza apoios que sempre custam fortunas à Viúva.
Desde que assumiu a Presidência, Dilma Rousseff mostrou-se zelosa com a disciplina de sua equipe. Ainda não completou cem dias de mandato e está diante de uma oportunidade para mostrar que fala sério. No caso de Mantega, entende-se que ela não pode conter as maledicências palacianas, pois começaram com d. Pedro 1º.
Pode, contudo, impedir que elas sejam potencializadas por seus comentários infelizes e inoportunos a respeito dos colaboradores.


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