São Paulo, segunda-feira, 16 de maio de 2011

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Chuchu com pimenta

VERA MAGALHÃES
DANIELA LIMA
DE SÃO PAULO

Em seu terceiro mandato no Palácio dos Bandeirantes, o governador Geraldo Alckmin parece disposto a enterrar o apelido Picolé de Chuchu, que lhe foi pespegado por José Simão em 2002 e nunca mais desgrudou.
Calejado pela derrota nas eleições de 2008, o tucano consolidou um grupo político próprio no partido e incentivou o expurgo dos que o abandonaram na ocasião.
No governo, adotou um discurso mais incisivo e não pestanejou em mudar secretários e políticas que foram vitrines da gestão de seu correligionário José Serra.
"O picolé de chuchu virou chuchu com chilli", resume um auxiliar com trânsito no novo núcleo duro do "alckmismo" -algo que nunca existiu no PSDB paulista, mas começa a ganhar contornos mais definidos.
Uma das queixas mais recorrentes dos tucanos a Alckmin sempre foi que ele agia muito em voo solo, sem criar um grupo no partido.
Seus aliados mais próximos eram os amigos de Pindamonhangaba, muitos deles também não identificados com o PSDB de FHC, Covas e Serra.
Nessa versão "apimentada", Alckmin fidelizou a bancada de deputados federais, que ganhou espaço na administração e nas instâncias partidárias. Isso lhe rendeu um grupo disposto a comprar briga internamente para defender seus interesses.
Isso ficou claro na disputa pelo diretório municipal do PSDB, na qual Alckmin não só emplacou um secretário na presidência como não abriu espaço para o grupo dos vereadores -muitos deles fiéis ao prefeito paulistano, Gilberto Kassab.
O resultado foi a saída em bloco de seis representantes da Câmara Municipal.
A quem argumenta que a debandada enfraquece o PSDB, os "pitbulls" -como são chamados pelas alas não alckmistas os braços direitos do governador- respondem que os que saíram não tinham força política e não farão falta ao PSDB.

FALAS INCISIVAS
Os discursos sempre pontuados por histórias pitorescas, com um toque de autoajuda, deram lugar a falas mais incisivas, em que Alckmin não hesita em atirar nos adversários -o mais notório é justamente Kassab.
Na campanha de 2006 perdeu-se a conta das vezes em que Alckmin repetiu seus "Dez Mandamentos da Vida Saudável", entre os quais aproveitar os primeiros raios de sol e comer peixes de água profunda, ricos em ômega 3.
O Alckmin de 2011 vai direto ao ponto, sem floreios: "Há uma ação para dizimar as oposições. Destruir o DEM, enfraquecer o PPS, enfraquecer o PSDB onde ele é mais forte, em São Paulo".
A mudança de estilo pegou de surpresa o grupo de Kassab e também a ala serrista do PSDB, cujos principais expoentes foram banidos do governo logo na transição.
"As derrotas fizeram dele um cara mais incisivo, mais precavido. Sabe que agora é a vez dele, tem de limpar o partido", diz um alckmista ferrenho, tratando de pôr mais pimenta no chuchu.


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