São Paulo, quinta-feira, 16 de junho de 2011

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Pela 1ª vez, risco de calote dos EUA supera o do Brasil

Guido Mantega festejou indicador, mas economistas veem efeito momentâneo

Segundo especialistas diferença entre riscos é passageira e reflete a tentativa americana de elevar teto de sua dívida


MARIANA CARNEIRO
DE SÃO PAULO

ANA FLOR
DE BRASÍLIA

O ministro Guido Mantega (Fazenda) celebrou ontem que, pela primeira vez, o risco de calote da dívida brasileira ficou abaixo do risco americano. A notícia, no entanto, foi recebida com ceticismo por economistas.
O argumento é que o indicador de risco citado por Mantega tem horizonte de um ano e concentra poucas negociações. Em períodos longos, mais procurados por investidores, o risco brasileiro é o dobro do americano.
Para o ministro, o risco menor sinaliza respeito.
"Isso mostra que nós estamos praticando uma política econômica correta, que vem solidificando o Brasil e impondo respeito em relação ao resto do mundo", afirmou.
A economista Mônica de Bolle, da Galanto Consultoria, no entanto, diz que a vantagem brasileira é pontual. Ela lembra que há um impasse político nos EUA sobre o aumento do limite da dívida do país, que precisa de aprovação no Congresso.
A incerteza da aprovação, que em último caso poderia gerar um calote da dívida, está provocando especulação e aumento do risco do país.
No mercado de risco, são negociadas apostas sobre a probabilidade de moratória de governos. Quanto mais alto o indicador, mais chance de calote. Com a crise de 2008, que deteriorou a situação fiscal de vários países da Europa, índices de Espanha, Grécia e Portugal estão bem acima do brasileiro.
Ontem, o risco medido pelo indicador citado por Mantega, o CDS - "Credit Default Swap" - para o período de um ano, chegou a 41 pontos, contra 54 dos EUA. Esse ativo funciona como um seguro.
"Se o investidor tiver US$ 100 em título da dívida de um país e quiser se proteger de um eventual calote, terá que pagar um "seguro" de US$ 0,41 no Brasil e US$ 0,54 nos EUA", diz o economista Alexandre Schwartsman.
O economista-chefe do banco Safra e ex-secretário do Tesouro Nacional, Carlos Kawall, também acha que a melhora frente aos EUA é passageira. "Foram eles que subiram [pioraram]", diz.
Além disso, economistas duvidam que os EUA não conseguirão aprovar o aumento do teto de sua dívida.
"Existe um evento que vai ocorrer nos próximos 45 dias nos EUA (votação no Congresso) com uma probabilidade remota de que não se resolva a contento e cause um baita problema. Passando isso, acabou a vantagem", frisa Schwartsman.
Outro indicador, o risco-país (medido pelo banco JP Morgan), mudou de patamar em 2008, quando o Brasil passou a ser considerado grau de investimento - uma espécie de selo de bom pagador, das agências de risco.
Em 2002, quando o então candidato Lula disparou nas pesquisas eleitorais, o risco brasileiro chegou a 2.000 pontos. Ontem, fechou em 172 pontos. A medida é um indicador importante, já que influi no custo dos empréstimos de empresas e do país feitos no exterior.
O economista do BGC Liquidez, Alfredo Barbutti, não vê riscos hoje de o Brasil dar um calote. Ele cita as reservas brasileiras, acima de US$ 300 bilhões, e o pagamento de juros da dívida que está garantido por meio das metas de economia do governo, alcançadas com corte de gastos e arrecadação maior.
Ele lembra que a piora da economia dos EUA não deve ser vista de forma positiva. "Se os EUA tiverem um problema, chacoalham todo mundo", avalia. "É melhor torcer para o acordo sobre o endividamento americano".
Mantega falou aos jornalistas após reunião com a presidente Dilma Rousseff.
"A presidente ficou muito satisfeita com a questão de o Brasil ter risco menor do que os Estados Unidos", disse.


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