São Paulo, sexta-feira, 16 de setembro de 2011

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Novo ministro vê 'corrupção sem paralelo' no mensalão

Em 2005, Gastão Vieira (Turismo) integrou CPI que investigou o caso

Nos pronunciamentos como deputado, o novo auxiliar de Dilma afirmou que o esquema partiu do Executivo

FILIPE COUTINHO
FERNANDO MELLO

DE BRASÍLIA

O novo ministro do Turismo, Gastão Vieira (PMDB), classificou em discursos feitos na Câmara o esquema do mensalão como um caso de corrupção "sem paralelo" na história brasileira.
Vieira tomará posse hoje em substituição a Pedro Novais, que deixou o cargo depois de a Folha revelar que ele usava funcionários pagos com dinheiro público em atividades particulares.
Em 2005, quando estourou o mensalão, Vieira era deputado pelo PMDB do Maranhão e integrou a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) que investigou o caso.
Enquanto a cúpula petista e o então presidente Lula se esforçavam na tentativa de desqualificar o escândalo, o novo ministro foi à tribuna dizer que o mensalão era um caso "deliberadamente e estrategicamente" montado para comprar deputados.
As declarações, que passaram despercebidas, podem gerar constrangimento com a chegada de Vieira à Esplanada dos Ministérios.
Em fase final de instrução, o processo do mensalão mobiliza intensamente o PT, partido do governo. A expectativa é de que o julgamento ocorra em 2012, ano das eleições municipais.
Vieira citou o escândalo do mensalão em ao menos seis discursos no plenário da Câmara, entre 2005 e 2009, quando o PMDB já era o principal partido de sustentação do governo do PT.
Em nenhum deles, o deputado mudou o tom. "O nível de recursos desviados revela que o desvio era feito de caso pensado", afirmou, em setembro de 2005.
Em 2009, por exemplo, o então deputado disse que o mensalão "envolvia presidentes e líderes de partidos e não aqueles que vagavam na solidão deste plenário".

EXECUTIVO
Em seus pronunciamentos feitos à época, ele disse que o mensalão partiu do Executivo e o governo, em vez de aproveitar a popularidade de Lula, preferiu "comprar partidos e cooptar deputados".
"A crise tem origem no Executivo, que poderia usar a força dos votos que trouxe Lula para a Presidência e fazer as reformas com nossa adesão."
Vieira chegou a considerar que Lula corria risco de sofrer impeachment.
"Devemos eleger um presidente para a Câmara independentemente do tamanho de bancada, que não provoque o impeachment do presidente Lula, mas esteja pronto para fazê-lo se as circunstâncias assim o determinarem", discursou no plenário, três meses após o mensalão ser revelado pela Folha.
Na Câmara, também bateu de frente com a ala do PT contrária ao apoio de José Sarney (PMDB-AP) a Lula: "Alguns deputados do PT quererem ser donos da verdade e das obras do governo".
Outro ponto de atrito foi a questão econômica. Ele criticou um dos principais argumentos do governo na área: a "herança maldita do governo Fernando Henrique". Para Vieira, o discurso refletia "medo de Lula não ter êxito no enfrentamento da crise".
O novo ministro de Dilma assume o cargo depois de cinco auxiliares caírem em nove meses do governo, quatro deles envolvidos em suspeitas de corrupção.


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