São Paulo, sexta-feira, 16 de setembro de 2011

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'Não vivo em corriola', diz novo ministro

Na véspera de tomar posse no Turismo, Gastão Vieira afirma que o peso de Sarney 'deve ter sido forte' para a sua escolha

Para o peemedebista, a Caixa tem uma 'puta responsabilidade' por irregularidades em emendas de deputados


Fotos Sérgio Lima/Folhapress
Em encontro do PMDB, Sarney cumprimenta o afilhado político Gastão Vieira, escolhido por Dilma para o Turismo

CATIA SEABRA
NATUZA NERY

DE BRASÍLIA

O novo titular do Turismo, Gastão Vieira, 65, que assume o cargo com o desafio de tirar o ministério da agenda negativa, diz que o fato de não viver "aqui e ali em corriola [grupo de pessoas desonestas]" pesou para sua escolha. E avisa: se não for possível mudar, "eu saio".
Ligado aos Sarney, ele afirma que seria "diminui-lo muito" atribuir sua nomeação somente ao peso da família. E que tentará mudar a imagem do ministério.
Leia os principais trechos da entrevista.

 

Folha - Dá um frio na barriga assumir um ministério assim?
Gastão Vieira - O clima para não ter uma agenda positiva é muito forte. É preciso ser criativo para sair da agenda negativa. Podemos transformá-lo em ministério estratégico.

Mas o Turismo está sempre envolvido em escândalos...
Nossa auditoria em curso vai prosseguir.
Vou pedir à CGU (Controladoria-Geral da União) que indique um representante dela para atuar na investigação interna, sinalizando que no setor não tem interferência política nem conivência.

O senhor é crítico do mensalão, mas entra para uma equipe que é continuidade da anterior.
Fui, sim [um crítico]. Tenho 24 anos de vida pública. Se tenho oportunidade de fazer alguma coisa mudar, eu topo. Não me sinto atingido. Não tem esse problema se eu conseguir trazer o ministério a uma agenda positiva.

E se perceber que não?
Eu saio. Estou despido de vaidade.

O Turismo vive de emendas ao Orçamento, uma das origens de desvios.
O ministério nasce assim. Não estou criticando, mas o ministério nasce com um grande trabalho do [ex-]ministro Walfrido dos Mares Guia, que usou seu prestígio para conseguir emenda, porque praticamente não tinha orçamento.

Mas é a regra.
Vai continuar assim? Vai. Critica-se muito as emendas, mas a Caixa está lá para fiscalizar.
Quem assina contrato, aprova a licitação e libera a parcela é a Caixa. A Caixa tem uma puta responsabilidade. Nesse negócio de emenda, o ministério é um simples repassador do dinheiro para a Caixa.

Incomoda-o não ter apoio integral do PMDB?
Recebi apoio absoluto do meu líder [Henrique Eduardo Alves] para o ministério. Quem me levou para falar com a Dilma foi o Michel [Temer].
Para mim, a bancada se diz encantada. Falam: "Pô, finalmente colocaram um cara lá que está preparado intelectualmente". Se a turma, por trás, está dizendo outra coisa, não sei.

Dilma exigiu um ministro ficha-limpa.
Isso é uma postura de vida. Se alguém disser isso ou aquilo de mim, primeiro, me dê o benefício da dúvida.

Sua escolha representa mudança de perfil ético no ministério?
Não tenho intimidade com a presidente para dizer isso. Mas, na hora em que ela dá um ministério a um deputado como eu, que não vivo aqui e ali em corriola, após examinar meu currículo e minha vida passada, acho que é uma chance nova [de mudança], sim.

Qual o peso da família Sarney?
Deve ter sido forte. O presidente Sarney tem muita ligação com a presidente. Não vou dizer que foi só o peso da família. Construí uma história. Eu trabalho, tenho opiniões.

Está dizendo que não é só um afilhado dos Sarney?
Seria me diminuir muito. Se pegarem minha folha de votações, verão várias oportunidades em que votei contra interesses.
Não sou genérico, que serve para qualquer coisa. Custou para construir uma vida acadêmica.

É correto o presidente Sarney, senador pelo Amapá, usar um helicóptero da polícia em viagens particulares?
Como ex-presidente da República, ele tem direito a transporte oficial. Acho que não cometeu delito. Ele poderia dispensar, mas não me parece que cometeu delito.


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