São Paulo, quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

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ANÁLISE

Ser político, no Brasil, é uma forma de obter ascensão social

FERNANDO RODRIGUES
DE BRASÍLIA

Ontem não foi a primeira vez que deputados e senadores se autoconcederam um aumento de salário nesta época do ano. Eles calibram a adoção dessas medidas para minimizar a reação negativa.
O país está crescendo. A classe média emergente terá o seu melhor Natal em muitos anos. O presidente desfruta de alta popularidade.
Tudo considerado, a chance de haver algum protesto orgânico contra o aumento de salários é reduzida, exceto o noticiário de hoje e dos próximos dias.
Nos salões verde (da Câmara) e azul (do Senado), o comentário-síntese ontem dessa alta de 61,8% nos salários dos congressistas era: "Antes do final do ano, não se falará mais do assunto".
Talvez seja um certo exagero. As retrospectivas de 2010, no início de 2011, devem citar essa correção nos rendimentos dos políticos.
Mas a história mostra que nunca houve protestos em massa contra aumento de salários no Congresso.
O argumento usado pelos políticos é que seria impróprio os congressistas da oitava maior economia do planeta receberem salários de R$ 16,5 mil enquanto ministros do Supremo Tribunal Federal ganham R$ 26,7 mil.
Agora, as rendas ficam equiparadas.
Essa defesa se insere na lógica em vigor em vários países que seguem o modelo de democracia representativa copiado dos Estados Unidos: ser político é uma forma de ascensão social, não uma atividade episódica.
Aqui não há espaço para um profissional liberal de alguma área arriscar-se na vida pública para de fato colaborar com o país por apenas quatro anos.
No Brasil, ser político é coisa para profissional. Se a sociedade não protestar, os salários dos congressistas continuarão a subir.


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