São Paulo, segunda-feira, 17 de janeiro de 2011 |
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Desafio antimiséria surge todo dia no caminho de Dilma para o Planalto No trajeto que faz entre a Granja do Torto e o trabalho, petista cruza com famílias de catadores de lixo que moram em barracos
JOHANNA NUBLAT DE BRASÍLIA No caminho que a presidente Dilma Rousseff faz de sua residência atual até o local de trabalho, ela encontra uma realidade que se enquadra em suas promessas de campanha: erradicar a miséria e investir em educação. Famílias com renda salarial baixíssima vivem em acampamentos de catadores de lixo nas margens do trajeto de Dilma entre a Granja do Torto e o Palácio do Planalto ou escondidos no mato a poucos metros da pista. Caso de Jéssica Pereira dos Santos, 18, que na quarta-feira passada aguardava no IML a liberação do corpo de seu filho de cinco meses. Pedro Henrique teve diagnóstico de pneumonia em 2010 e virou o ano com tosse. Morreu no dia 8 a poucos metros da praça dos Três Poderes, onde fica o Planalto, sob a suspeita de ter se sufocado após regurgitar. O laudo do IML deve atestar a causa. "Mãe, coloca a meia no pé dele. Se ficar grande, dobra." Essa foi a instrução que Jéssica deu à mãe na porta do IML. O corpo do menino ficou cinco horas no barraco, com a mãe em desespero, até a chegada da perícia. A esperança de Jéssica, agora, é dar um futuro melhor para a filha de 2 anos, irmã de Pedro Henrique. Quer que Ana Clara estude, o que ela própria não fez. "A gente tira R$ 100 por mês. Para mim, meu padrasto, minha mãe, minha filha e meu finado filho", diz Jéssica. Aos 18 anos, não sabe ler nem escrever. O único trabalho que já teve foi catar lixo. FAIXA DE MISÉRIA Outro Pedro Henrique mora num barraco vizinho. Aos sete meses, passa os dias sem roupa e brincando numa caixa que serve de cercadinho. Não tem brinquedos nem vai à creche. A irmã, Beatriz, 10, não tem bonecas em casa. Os dois ou brincam no mato ou dormem, já que não há outra opção por perto. Beatriz sabe ler e escrever. Frequenta uma escola pública num bairro nobre da cidade e volta de ônibus comum, tendo que atravessar diariamente as seis faixas de pista por onde passa o comboio presidencial a 150 km/h. Com o que a família ganha -algo na faixa de R$ 350 mensais-, Beatriz e Pedro Henrique conseguem almoçar arroz, feijão e, eventualmente, carne. De manhã, o cardápio é pão e manteiga, acompanhados de mortadela e leite quando é possível. Os irmãos se inscrevem na faixa da pobreza, com renda per capita menor que R$ 140 ao mês, segundo critérios do Bolsa Família. Já Jéssica e sua família podem ser classificadas como indigentes, com até R$ 70 mensais. Carlos Roberto dos Reis, 42, tem certeza de que a presidente notou a existência dos catadores em seu caminho. "Ela passa do meu lado todo dia.". E aproveita para mandar um recado. "Fale para a dona Dilma cumprir a promessa que fez, porque votei nela por causa do Lula." A face mais visível da miséria no caminho de Dilma tem data para acabar. Ela mora no Torto enquanto o Palácio da Alvorada, residência oficial, é preparado para recebê-la, o que deve ocorrer até o fim do mês. Texto Anterior: Foco: Governador de Rondônia registra cada passo em blog Próximo Texto: Frases Índice | Comunicar Erros |
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