São Paulo, quinta-feira, 17 de junho de 2010

Texto Anterior | Índice

ANÁLISE

Mensagem moderna não é fácil em país ainda atrasado

FERNANDO CANZIAN
DE SÃO PAULO

Marina Silva (PV) insistiu e repetiu na sabatina da Folha/UOL: "O desafio do século 21 é integrar o meio ambiente e o desenvolvimento em uma mesma equação".
A não aceitação dessa premissa teria sido o motivo central de sua saída do governo Lula e do PT, em 2008 e 2009, respectivamente.
Perseguir essa "equação" seria também o que chamou várias vezes de "delta a mais" em relação às candidaturas de José Serra (PSDB) e de Dilma Rousseff (PT).
Sobre a candidata lulista, disse inclusive que o Brasil não precisa de "continuador", mas de um "sucessor".
Marina se vende como a mais "coerente e consistente" para proteger "bagres, índios e populações locais e ribeirinhas" do avanço destruidor de um progresso hostil contra o meio ambiente.
Na sua opinião, mesmo os recursos da nova fronteira do pré-sal ("um mal necessário") deveriam ser empregados na direção de uma matriz energética mais verde.
Há muitas razões e argumentos nobres a favor de Marina. Mas é difícil e inglória a tarefa da candidata: vender seu "delta a mais" a um público que passou mais de duas décadas "na seca" em termos de crescimento.
E que só agora experimenta (com toda a força neste ano eleitoral) o que é, afinal, avançar mais rápido; com milhões de novos empregos, aumento da renda e melhora em sua distribuição.
Dezenas de milhões de brasileiros ainda querem entrar nessa festa, regada ao crédito que alavanca o consumo. E ela levará, inexoravelmente, a uma liquidação mais precipitada do estoque de recursos naturais que Marina gostaria de preservar.
Infelizmente, pouquíssimos países avançaram nos últimos 150 anos sem impor pesadas perdas ao meio ambiente, recuperadas (ou não) ao entrarem em outro estágio de desenvolvimento.
A China é o maior exemplo contemporâneo. Os EUA, de como recessões profundas adiam uma agenda tida como "prioritária" (por um presidente popular) de aposentar o quanto antes uma matriz energética "suja".
Mesmo assim, é na defesa de seu "delta a mais" que Marina se sai bem. Muito melhor do que quando discorre sobre autonomia do Banco Central, câmbio valorizado e excesso de carga tributária.
Sua visão é apenas básica sobre esses temas, considerados hoje justamente os maiores entraves para um crescimento mais acelerado.


Texto Anterior: Frases
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.