São Paulo, domingo, 17 de julho de 2011

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PERFIL LUIZ ANTONIO PAGOT

Homem-bomba do Dnit tem fama de "trator"

Pelas mãos de Blairo, Pagot chegou ao departamento em 2007 e hoje é respeitado pelo que conhece do órgão pivô da crise

Nos cinco anos em que assessorou o padrinho em MT, ficou marcado como negociador duro com memória exemplar

Ednilson Aguiar -14.dez.2008/Secom-MT
Luiz Antônio Pagot, já à frente do Dnit, em 2008, durante visita a obra de asfaltamento da BR-364, em Deciolândia (MT)

RODRIGO VARGAS
DE CUIABÁ

De militar da Marinha a líder empresarial no oeste do Paraná. De alto executivo de um conglomerado para a cadeira de secretário de três pastas do governo de Mato Grosso. Do quase anonimato em nível nacional para o cargo de diretor de um órgão do Ministério dos Transportes com orçamento bilionário.
A trajetória percorrida pelo economista Luiz Antonio Pagot, 58, diretor que pode ser afastado do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), nos últimos 36 anos revela um homem habituado a reviravoltas. A maioria em estreita sintonia com a família Maggi.
Uma das últimas mudanças aconteceu nesta semana, quando Pagot assumiu o centro do cenário político. Com depoimentos marcados no Senado e na Câmara sobre as suspeitas de propina na pasta dos Transportes, tornou-se um homem-bomba.
Com a saída anunciada, a expectativa era a de que Pagot expusesse as entranhas do órgão que comanda desde 2007 por indicação de Blairo Maggi (PR-MT). Mas, após uma operação abafa deflagrada pelo Planaltom, negou a existência de irregularidades no Dnit ao depor.
Nesse episódio, novamente entrou em cena seu padrinho Blairo, que, após negociar com o governo, defendeu a permanência do afilhado -que oficialmente está em férias- no posto.
Frequentemente descrito como mero ajudante de ordens de Blairo, Pagot é apontado por inimigos e aliados próximos como figura muito mais complexa do que aparenta, de personalidade forte e com ascendência sobre o padrinho político.

"TRATOR"
Nos cinco anos em que atuou ao lado de Blairo no governo de Mato Grosso, criou fama de "trator". Com memória prodigiosa, amparava seus argumentos em uma profusão de números e era um duro negociador.
O perfil lhe rendeu vários cargos em Mato Grosso desde a eleição do padrinho, em 2002. Primeiro, compôs a equipe de transição. Já no governo, assumiu a pasta de Infraestrutura. Depois, a Casa Civil e a Educação.
"Dentro do governo, tenho sido um escudeiro", disse, certa vez, ao tentar definir seu papel na administração.
Gaúcho de Veranópolis, Pagot já mantinha relações com a família Maggi mesmo no setor privado. Chegou ao Grupo André Maggi em 1993.
Em 1995, assumiu o cargo de diretor-superintendente na Hermasa Navegação da Amazônia -um projeto de hidrovia particular do grupo para escoar a produção de soja entre Porto Velho (RO) e Itacoatiara (AM).
No cargo, participou do lobby que mudou o traçado da BR-364, em Mato Grosso -alteração que beneficiou a rota criada pela Hermasa.
Em 2005, Pagot disse que a alteração se deveu à "amizade" com Eliseu Resende, deputado federal morto este ano, que relatava substitutivo do Plano Viário Nacional.
Ainda à frente da Hermasa, foi acusado pelo Ministério Público Federal de receber salário indevido do Senado como secretário parlamentar -função que acumulou de 1995 a 2002, após a eleição de Jonas Pinheiro, de quem Blairo era suplente.
A ação pede a devolução de R$ 430 mil em salários pagos pelo Senado. Ele nega ter recebido indevidamente.

TUTOR
A relação entre as famílias Maggi e Pagot remonta à década de 1960, quando ambas eram importantes forças políticas no recém-criado município de São Miguel do Iguaçu (PR), terra natal de Blairo.
Ferdinando, pai de Pagot, foi prefeito. André Maggi, presidente da Câmara Municipal. Eram aliados e amigos.
Uma fonte próxima a ambos disse à Folha que o pai de Blairo tinha "profunda admiração" por Pagot, a ponto de "nomeá-lo" informalmente como "tutor" do filho no início da carreira política.
Anos antes, em 1975, Pagot iniciara sua carreira na Marinha, onde ficou até 1983. Participou da última comissão que reviu limites territoriais do Brasil com vizinhos.
Para assumir o Dnit em 2007 -por indicação direta de Blairo a Lula-, teve de enfrentar oposição no Congresso. Mais uma vez, contou com a força do padrinho, que apoiou Lula em 2006 e bancou Pagot para o cargo.


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