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Tribunal "esconde" processo contra Dilma
Para evitar uso eleitoral, corte guarda em cofre papéis de ação que levou petista à prisão na ditadura, diz ministro
Caso não é protegido por sigilo; presa em 1970, Dilma foi condenada pela Justiça Militar de três Estados e torturada
LUCAS FERRAZ
DE BRASÍLIA
Está trancado desde março, num cofre da presidência
do Superior Tribunal Militar,
todo o processo que levou a
candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, à prisão
durante a ditadura (1964-85).
A papelada, retirada dos
arquivos por ordem do próprio presidente do tribunal
para prevenir um eventual
uso político do material, revela em fichas, fotos, depoimentos e relatórios de inteligência a militância de Dilma
à época.
Até março, quando foram
"escondidos", os documentos poderiam ser consultados
pelo público, como advogados, jornalistas, pesquisadores e pelas partes do processo. A liberação, quase sempre, é feita pelo ministro-presidente do tribunal, Carlos
Alberto Marques Soares.
Em entrevista à Folha, ele
admitiu que o processo foi
parar no cofre por causa das
eleições. "Não quero uso político [do STM]", afirmou ele.
"Não vou correr risco no período eleitoral."
Estão nos arquivos do STM
mais de 116 mil processos.
Além do material sobre a ditadura, há documentos da
Intentona Comunista, de
1935, e da chegada de Getúlio
Vargas ao poder, em 1930.
Só o processo referente a
Dilma e "mais uns outros
50", segundo Carlos Alberto
Marques, estão no cofre.
Mas o passado de Dilma
em organizações da esquerda armada não é o único argumento para a retirada do
material do arquivo. "Também vamos começar a restauração e a digitalização
dos processos", disse.
A digitalização, por enquanto, só existe no discurso. Uma licitação para contratar um responsável para
restaurar os arquivos ainda
nem saiu do papel, como reconhece o ministro.
Apenas depois de restaurados, os papéis serão digitalizados. E o processo só será
disponibilizado ao público
após a digitalização.
A assessoria da candidata
do PT diz que ela "desconhece" a guarda dos documentos em um cofre.
"A mim ninguém pediu
nada", afirmou Carlos Alberto ao ser questionado se recebeu alguma solicitação para
levar o material aos cofres.
O processo não traz informações somente do passado
de Dilma. À época, em 1970,
outras 67 pessoas tornaram-se rés no mesmo caso.
Quase todos eram integrantes da VAR-Palmares
(Vanguarda Armada Revolucionária - Palmares), organização que Dilma integrava.
Parte do material, mas não
ele todo, está espalhada em
arquivos públicos do país. O
processo não está protegido
por sigilo.
Presa no início de 1970, a
candidata do PT foi condenada pela Justiça Militar de três
Estados -Rio, Minas e São
Paulo. Foi torturada. Deixou
a prisão no final de 1972.
Em entrevistas sobre o assunto, Dilma Rousseff diz ter
orgulho de seu passado de
luta contra a ditadura. Ele nega ter atuado em ações armadas e afirma que sua participação restringiu-se à logística das organizações.
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