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Viúvas de mortos no Haiti querem seguro em dobro
Mulheres de militares argumentam que maridos estavam a serviço no país
Responsável por seguro, Poupex diz que apólice não previa pagamento em caso de terremoto, mas arca com benefício
DO RIO
DE CAMPINAS
Viúvas dos militares brasileiros mortos no terremoto
do Haiti em janeiro exigem
pagamento em dobro do seguro de vida porque os maridos estavam a serviço. Responsável pelas apólices, a
Poupex diz que há "um equívoco de interpretação".
A entidade, gerenciada pela Fundação Habitacional do
Exército, quer pagar entre
R$ 100 mil e R$ 250 mil, como
publicou no domingo o colunista da Folha Elio Gaspari.
"O fato de os militares terem falecido no cumprimento de uma missão humanitária do Exército brasileiro não
altera o valor concedido,
uma vez que a origem dos
óbitos foi um terremoto", diz
em nota a entidade.
A Poupex afirma que a
apólice não prevê pagamento em caso de terremoto. Alega que, mesmo assim, "em
lugar de adotar postura mais
confortável", se propôs a pagar o seguro, porém, não em
dobro, como querem familiares das vítimas.
O Exército confirma as informações da Poupex e diz
que, em "caráter excepcional", foi proposto o pagamento do seguro.
Dezoito militares brasileiros morreram no terremoto
do Haiti. Eles participavam
de missão da ONU no país.
O governo brasileiro prometeu indenizar com R$ 500
mil cada família de militar
morto, além de dar auxílio de
R$ 510 mensais por filho em
idade escolar. Até hoje, a promessa não foi cumprida.
Ontem o Ministério da Defesa afirmou que, no dia 5
passado, o governo pediu ao
Congresso autorização para
liberar R$ 10,1 milhões e pagar as indenizações.
AÇÃO JUDICIAL
A professora e bancária
Cely Zanin -viúva de um oficial morto no terremoto-
disse ontem que entrará com
ação judicial para receber o
seguro por morte acidental
do marido.
O coronel João Eliseu Souza Zanin, 46, morreu quando
o quartel-general da ONU desabou durante o terremoto.
Cely, 43, diz que ela e as
outras 17 viúvas dos militares
receberam das seguradoras
metade do que ela diz acreditar ser de direito porque a
morte deles foi considerada
"natural" pelas seguradoras.
"Já estamos providenciando a ação porque não achamos justo. Nós não vamos recuar e vamos lutar até o final
pelo direito dos nossos maridos. Provavelmente serão as
18 viúvas e será neste mês."
Ela afirma também não ter
recebido os R$ 500 mil prometidos pelo presidente Lula
logo após o terremoto nem a
ajuda de custo mensal para
os filhos. Cely tem dois, um
de 17 e outro de 18 anos.
"Foi noticiado, saiu na imprensa internacional, mas
até hoje não recebemos nada. A ajuda de custo prometida de R$ 510 aos filhos para o
estudo também não recebemos e o ano está acabando",
disse ela.
"Essa ajuda prometida pelo Lula é muito importante
também. Da Poupex [seguro
pago por cerca de 30 anos,
segundo ela] recebi por morte natural, em torno de
R$ 280 mil."
Se fosse por morte acidental, o pagamento teria sido de
pelo menos R$ 560 mil.
"O problema da Poupex e
do Bradesco em nos pagarem
a diferença é abrir precedentes para os 2.000 homens que
estão lá no Haiti hoje. Porque
eles estão descobertos pelo
seguro. Aí vem o seguro e diz
que foi morte natural", disse
ela, que contou ter recebido
US$ 50 mil da ONU dois meses após a morte.
A Folha não conseguiu
contato com a seguradora do
Bradesco.
(MAURÍCIO SIMIONATO e HUDSON CORRÊA)
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