São Paulo, sexta-feira, 17 de setembro de 2010

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Mensalão de ex-governador era de R$ 500 mil, diz delator

Quantia era paga por mês a Waldez Góes no Amapá, segundo colaborador

Esquema funcionaria para manter contrato de empresa com governo; defesa de suspeito não atendeu a reportagem

JOÃO CARLOS MAGALHÃES
ENVIADO ESPECIAL A MACAPÁ

O ex-governador do Amapá Waldez Góes (PDT), candidato ao Senado, recebia uma propina de R$ 500 mil mensais para manter um contrato de fornecimento de alimentos aos presos do Estado, segundo depoimentos dados à Polícia Federal.
O assessor jurídico da Secretaria da Segurança Pública do Amapá Luiz Mário Araújo de Lima cooperou com a PF nas investigações da Operação Mãos Limpas. Os depoimentos, de novembro de 2009 e maio deste ano, foram obtidos pela Folha.
As apurações da PF apontaram para um suposto esquema de desvios de recursos públicos no Estado. Na semana passada, 18 pessoas foram presas -entre elas, Góes e Pedro Paulo Dias (PP), atual governador, que continuam detidos em Brasília.
Nas palavras do assessor, a fraude no Iapen (Instituto de Administração Penitenciária do Estado) era "orquestrada" por Góes, sua mulher, Marília, pelo deputado federal Evandro Milhomen (PC do B) e por Francisco Odilon Filho, empresário e dono da Mecon, que fornece as marmitas para os presos.
Em novembro, Lima disse que "teve conhecimento de fraude" e que os recursos "desviados do contrato seriam direcionados a Góes", que "receberia em torno de R$ 500 mil mensais".
Lima pediu para ser beneficiado pelo recurso delação premiada -possibilidade jurídica de um envolvido em crimes ter sua pena amenizada em troca de colaboração.
Ele afirmou que era pressionado e coagido pelo secretário da Segurança, Aldo Ferreira, para fazer "alterações que entendia ilegais em pareceres jurídicos" para "regularizar licitações e contratos". Se não as fizesse, disse, perderia o emprego.
Ferreira, segundo Lima, foi uma indicação do senador José Sarney (PMDB-AP).
De acordo com o assessor, Góes interveio em uma disputa de poder na secretaria . Ferreira tentou fazer com que o contrato saísse das mãos de Odilon e fosse para um "investidor de SP". O negócio, disse, "foi vetado" por Góes.
Segundo sua versão, Milhomen deu R$ 300 mil a Ferreira para o secretário desistir de mudar de fornecedor.
A Folha ligou para o advogado de Góes, mas não houve retorno até a conclusão desta edição.
A assessoria do governo não deu uma versão para o depoimento de Lima.
Na Mecon, a reportagem foi orientada a procurar o escritório de Odilon, no qual ninguém atendeu o telefone.
A assessoria de Milhomen negou envolvimento dele.

ASSEMBLEIA
O presidente da Assembleia Legislativa e candidato a governador, o deputado estadual Jorge Amanajás (PSDB), está na mira da PF devido a suspeitas sobre desvios de recursos no órgão público que podem beneficiar uma ONG que ele dirige.
A ONG poderia estar recebendo recursos de forma irregular, diz relatório. Além disso, teria a proteção do Tribunal de Contas do Estado, cujo presidente, José Miranda, também foi preso.
Amanajás não respondeu as ligações da Folha até a conclusão desta edição.


Com colaboração de São Paulo
Colaborou a Sucursal de Brasília


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