|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros
"Fim" da Zona Franca assusta eleitor e tira voto de Serra no AM
Boato de que tucano acabaria com incentivos fiscais impulsiona a vitória de Dilma no Estado
ELVIRA LOBATO
ENVIADA ESPECIAL A MANAUS
Um boato minou a candidatura de José Serra na capital do Amazonas: a ideia, disseminada boca a boca, de
que o tucano é inimigo da Zona Franca de Manaus e de
que, se eleito, acabaria com
os incentivos que alimentam
o polo industrial e a economia do Estado.
A Zona Franca emprega
105 mil trabalhadores diretos, o que corresponde a 1 de
cada 11 eleitores de Manaus.
Além disso, ela gera 400 mil
empregos indiretos, que representam 35,5% do total de
1,12 milhão de eleitores.
O estigma de Serra é apontado como o principal fator
da esmagadora vantagem de
Dilma no primeiro turno.
Sem ir a Manaus, ela teve
455 mil votos a mais do que
Serra. Ele obteve só 6,6% dos
votos válidos na capital, contra 56,36% da petista e 35,9%
de Marina Silva (PV).
A Folha conferiu a força
do estigma nas fábricas. "Votei na Dilma para manter
meu emprego", disse Francisco Evandro Lopes, 42, líder de turma na Nissin, que
faz componentes de motos.
"Serra vai levar a Zona
Franca para São Paulo", disse Marcos Paulo Silva, 28,
operador de máquinas da Coplast, que recicla plástico.
Serra tem se esforçado para mudar a imagem. Em visita a Manaus, em agosto, declarou que a Zona Franca é
"uma realidade que ajuda a
preservar a floresta" e que é a
favor do modelo existente.
O rótulo de inimigo surgiu
porque Serra, no Ministério
do Planejamento (95-96), fez
uma intervenção branca na
Superintendência da Zona
Franca de Manaus.
Serra nomeou superintendente Mauro Ricardo Santos,
atual secretário de Fazenda
de SP, que demitiu 80 funcionários fantasmas ligados a
políticos.
"Mauro Costa moralizou e
modernizou a administração", diz o ex-prefeito de Manaus Serafim Corrêa (PSB).
Para ele, o ex-governador
(hoje prefeito) Amazonino
Mendes carimbou Serra como inimigo da Zona Franca.
Em 2007, já governador
paulista, Serra elevou o ICMS
sobre monitores e celulares
feitos em outros Estados para
estimular a fabricação dos
produtos em São Paulo. A Zona Franca sentiu o baque e o
estigma se reforçou.
Os dados do TRE mostram
que a rejeição aos tucanos
em Manaus surgiu em 2002.
Em 1994, Fernando Henrique Cardoso teve 130 mil votos a mais que Lula no primeiro turno. Em 1998, a diferença foi de 102 mil votos.
Em 2002, Serra foi o quarto
colocado no primeiro turno.
"Sou eleitor e cabo eleitoral de Serra, mas enfrentar a
fama de inimigo da Zona
Franca é osso duro de roer",
diz o diretor da Federação
das Indústrias do Estado do
Amazonas, Flávio Dutra.
Outra dificuldade enfrentada por Serra foi o fato de
que todas as líderes locais, à
exceção do senador tucano
Artur Virgílio (que não se reelegeu), apoiaram Dilma.
Na zona leste, a petista teve 60% dos votos. Lá, famílias pobres também atribuem
a escolha por Dilma ao apoio
do presidente Lula.
O casal de evangélicos
Marta e Raimundo Correia,
afirma que, se ela "trair o
eleitor", terá o mesmo destino de Fernando Collor de Mello. "A gente tira ela", declarou Raimundo. O casal diz
que vota em Dilma como retribuição aos bens que conquistaram no governo Lula.
Texto Anterior: Boatos turbinam lavadas em AM e SP Próximo Texto: Frases Índice | Comunicar Erros
|