São Paulo, sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

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Índio admite negociação de voto em RR

Líder confirma ter acertado venda de votos em favor de Anchieta Jr. em 22 comunidades indígenas por R$ 120 mil

Procurador-geral, que ofereceu dinheiro, nega irregularidade; trechos das conversas foram revelados pela Folha

JOÃO CARLOS MAGALHÃES
ENVIADO ESPECIAL A BOA VISTA (RR)
RENATA LO PRETE
EDITORA DO PAINEL
FABIO ZAMBELI DO PAINEL

Um líder indígena reconhece que negociou por R$ 120 mil, com o procurador-geral de Roraima, Chagas Batista, a venda de votos em favor do governador José de Anchieta Jr. (PSDB), reeleito no segundo turno das eleições por uma diferença de 1.700 votos, a margem mais estreita do país.
Conforme gravações reveladas ontem pela Folha, José Newton Simão de Lima, líder da comunidade da Boca da Mata, distante cerca de duas horas da capital, Boa Vista, afirmou em conversa com procurador o Francisco das Chagas Batista que o valor seria o suficiente para ter o apoio de 22 comunidades.
Em entrevista ontem, José Newton reafirmou os termos do diálogo. Questionado sobre a finalidade da transação, declarou: "Era para compra de votos". Em seguida, detalhou: "Era para trabalhar na campanha, para apoio e compra de voto".
Mas, por "um imprevisto", segundo ele, o pagamento não chegou a ocorrer.
A mulher de José Newton, Silvana Moreira de Lima, disse que a negociação foi acompanhada pela Polícia Federal. "Parece que ele estava junto com um federal", afirmou ela.
Procurada, a PF negou.
Chagas Batista havia negado que a conversa versasse sobre compra de votos. Segundo o procurador, os R$ 120 mil seriam para prestação de serviços à campanha.
O procurador regional eleitoral de Roraima, Ângelo Goulart Villela, afirmou que vai entrar hoje com ações por compra de votos contra o governador José de Anchieta Jr. e contra o candidato derrotado, Neudo Campos (PP). Segundo ele, as ações vão focar crimes diferentes dos que tiverem indícios revelados pela Folha.
No caso de Campos, diz Villela, há suspeita de distribuição de cestas básicas entre eleitores. Já no caso de Anchieta, suspeita-se do incentivo a invasão de terras públicas sob a promessa de que os invasores teriam a situação das áreas regularizadas caso ele fosse eleito.
"A campanha eleitoral teve corrupção dos dois lados, mas como a do governador foi mais vultosa, essa corrupção ficou mais visível", disse.
As gravações reveladas pela Folha mostram, além do procurador-geral do Estado, também a primeira-dama, Shéridan Anchieta, e o irmão de Anchieta Jr., Janser Teixeira, agindo na tentativa de obter votos para o governador.
Num dos diálogos, Shéridan pergunta a uma moradora de Boa Vista: "O que a senhora quer pra votar no Anchieta?". Teixeira, por sua vez, tenta acalmar uma colaboradora que se diz aflita por haver prometido dinheiro em troca de votos. Depois, não teve como pagar os eleitores.


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