São Paulo, terça-feira, 18 de janeiro de 2011

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ANÁLISE

Paralisia é o fantasma dos ministros do Supremo no julgamento do mensalão

JOAQUIM FALCÃO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Será que o Supremo julga ainda neste ano essa decisiva questão jurídico e política?
Pode ser que sim, pode ser que não. Organizar e administrar o processo do mensalão é desafio tão complexo quanto construir um edifício.
Depende do entrelaçamento de três fatores.
O primeiro é o direito de defesa de 38 acusados. O direito é individual. O STF tem que respeitar um a um. Leva tempo, mas é indispensável no Estado de Direito.
Até agora o Supremo é bem-sucedido. Decidiu que não fere o direito de defesa, ao contrário do que pretendiam alguns, julgar os réus juntos, em vez de haver dezenas de processos.
Nem descentralizar depoimentos das testemunhas é inconstitucional. Vinte e dois tribunais, sendo quatro estrangeiros, colaboraram. Os juízes que ouviram mais rápido ganharam menção do STF para futura promoção.
O processo eletrônico está funcionando. Centenas de advogados e procuradores podem ter vista ao mesmo tempo. E não um atrás do outro, como alguns pretenderam. Demoraria anos.
O Supremo enfrenta ainda alegações meramente protelatórias. O fantasma é a prescrição da punição que já pode acontecer a partir de agosto, antes de o tribunal falar.
Incidentes processuais, para serem corrigidos, leva tempo. Joga-se com a lei processual. É quase um game.
Ou um livro de mais de 50 mil páginas sempre reescrito.
O segundo fator é o direito ao livre convencimento do ministro, que também exige tempo, e é indispensável à democracia. A pena, se houver, será individualizada.
O ministro tem que formar sua convicção caso a caso.
Pode pedir vistas. O regimento o obriga a devolver na sessão seguinte. Mas ele pode não ter feito o seu juízo ainda. Às vezes, vistas regimentais se perdem de vista.
Finalmente existe a expectativa de opinião pública, partidos e organizações sociais para que o caso seja logo julgado. A sociedade estará dividida, sobretudo se a questão se apresentar como pró ou contra Lula.
O STF também deve se dividir. Punir ou absolver. O fantasma é a paralisia. O risco de empate parece afastado. Mas o de prescrição, não.
O teste será saber se as instituições democráticas funcionam, se o STF decide a tempo. Dependerá da oposição conseguir transformar o processo judicial numa mobilização midiática, política e social. Muita água vai rolar.

JOAQUIM FALCÃO é professor de Direito da FGV-Rio.


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