São Paulo, quarta-feira, 18 de maio de 2011

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ANÁLISE

Caso Palocci mostra inversão de papéis entre PT e oposição

Acusação sobre ministro expôs o silêncio desconfiado dos petistas e a cobrança envergonhada de adversários

FOI PRECISO QUE DILMA BLINDASSE PALOCCI PARA QUE OS PETISTAS SAÍSSEM DO ARMÁRIO PARA DEFENDÊ-LO

VERA MAGALHÃES
DE SÃO PAULO

A revelação da extraordinária evolução patrimonial do principal ministro do governo Dilma Rousseff, Antonio Palocci, foi seguida, num primeiro momento, por uma inversão de papéis.
No PT, um silêncio desconfiado para defender o titular da Casa Civil; na oposição, uma cobrança envergonhada e nada convicta por explicações, seguidas de elogios ao personagem.
Só ontem, 48 horas depois da publicação da reportagem da Folha mostrando que Palocci multiplicou por 20 seu patrimônio em quatro anos, o partido da presidente da República e as siglas oposicionistas começaram a desempenhar, ao menos diante dos holofotes, seu script.
Foi preciso que Dilma blindasse Palocci para que os petistas saíssem do armário para defendê-lo. Mesmo assim, sem o ímpeto habitual, com acusações à imprensa e indignação nas redes sociais.
José Dirceu, sempre eloquente em seu blog pessoal, limitou-se a reproduzir declarações públicas sobre o episódio que fragiliza seu antípoda de sempre no PT.
A parcimônia de declarações de apoio a Palocci fez aumentar na base aliada a sensação de que está de volta o fogo nem tão amigo, que fustigou Palocci durante o primeiro mandato de Lula, quando cabia a ele ditar os rumos da economia.
Nas palavras de um senador petista conhecedor antigo das rusgas no partido, "a balística do projétil que acertou o Palocci vai mostrar que a arma era do quartel".
Da mesma forma, foi só depois que o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, opinou que era necessário um "olhar cuidadoso" sobre os bens de Palocci que PSDB, DEM e PPS tomaram coragem para pedir investigações com mais ênfase.
O foco do governo -agora que baixou a jurisprudência de que fatos prévios ao exercício do cargo não importam- passa a ser evitar que Palocci passe pelo desgaste de depor no Congresso. Para isso, vale até lançar mão de expediente inusitado.
Em e-mail a senadores com explicações sobre a Projeto, a Casa Civil diz que a passagem pela pasta da Fazenda confere "enorme valor" a esses "profissionais", como Palocci, no mercado.
E não se constrange em comparar o atual titular da Casa Civil a ex-símbolos do governo Fernando Henrique Cardoso -e alvos da oposição petista ao projeto "neoliberal"-, como Pedro Malan, Armínio Fraga, Pérsio Arida e André Lara Resende.
Essa equiparação talvez seja emblemática de por que petistas têm dificuldade em defender, e tucanos, pesar em atacar Palocci.


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