São Paulo, quinta-feira, 18 de agosto de 2011

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Rossi cai, e Dilma perde o 4º ministro em oito meses

Ex-titular da Agricultura culpa "campanha sórdida" e "acusações falsas"

Queda abala relação do PT com PMDB, e Michel Temer diz à presidente que será preciso "achar um jeito de resistir"


DE BRASÍLIA

O ministro da Agricultura, Wagner Rossi, pediu demissão ontem, atingido por uma onda de acusações que apontou pagamento de propinas, influência de lobistas e aparelhamento político em sua gestão no ministério.
Rossi, 68, é o quarto ministro a deixar o governo Dilma Rousseff, menos de oito meses depois da posse da presidente. Filiado ao PMDB, ele estava no ministério desde o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Rossi era uma indicação pessoal do vice-presidente Michel Temer. Sua queda arranha o coração do governo e abala a delicada relação entre o PT e o PMDB, os dois maiores partidos da aliança que elegeu a presidente.
A Polícia Federal abriu no início da semana um inquérito para investigar as acusações de um ex-funcionário do ministério, Israel Leonardo Batista, que chefiou o setor de licitações da pasta e foi afastado no início deste ano.
Em entrevista à revista "Veja", Batista acusou o lobista Júlio Fróes de ter distribuído propinas a ele e outros funcionários depois de assegurar um contrato milionário do ministério com uma empresa que representava.
Ele reafirmou a acusação nesta semana em depoimento à PF e numa entrevista à Folha, em que afirmou que o ministério foi "corrompido" após a chegada de Rossi.
Em sua carta de demissão, Rossi afirmou que o governo virou alvo de uma "campanha sórdida" e que ele foi atingido por "acusações falsas sem qualquer prova."
A crise na Agricultura começou em julho, quando o diretor-financeiro da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), Oscar Jucá Neto, foi demitido após autorizar o pagamento de uma indenização milionária em circunstâncias suspeitas.

BANDIDOS
Irmão do líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), ele caiu atirando. Numa entrevista à "Veja", disse que "só tem bandido" no ministério e sugeriu que Rossi comandava um esquema de corrupção.
Anteontem, o jornal "Correio Brazilense" revelou que Rossi viajou de carona em jatinho da Ourofino Agronegócio, empresa com interesses no ministério e ligações com o ministro e sua família.
O episódio levou peemedebistas a aconselhar Rossi a pedir demissão para evitar complicações com a Comissão de Ética Pública da Presidência, que planejava examinar seu caso em breve.
Pressões familiares também contribuíram para a decisão do ministro de sair. Em conversa com deputados, Michel Temer contou que os netos de Rossi foram hostilizados ontem na escola.
O vice disse que o aliado estava "arrasado" e narrou um diálogo que teria travado com a presidente. Temer teria dito a Dilma que os adversários do governo poderão "buscar um próximo alvo" e que será preciso "achar um jeito de resistir a isso".
Em nota, a presidente lamentou "profundamente" a saída de Wagner Rossi e condenou o fato de o "ministro não ter contado com o princípio da presunção da inocência diante de denúncias contra ele desferidas".
O tratamento de Dilma foi bem diferente do que ela empregou quando surgiram suspeitas de corrupção no Ministério dos Transportes, que era controlado por outro partido governista, o PR.
Antes de Rossi, deixaram o governo sob suspeita de irregularidades Antonio Palocci (Casa Civil) e Alfredo Nascimento (Transportes). Nelson Jobim (Defesa) saiu por conta de desavenças com Dilma.


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