São Paulo, sábado, 19 de fevereiro de 2011

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Reportagem que levou à queda de ministra ganha Prêmio Folha

Trabalho mostrou que Erenice Guerra usou estrutura do governo para beneficiar empresa de seu filho

Ganhador do prêmio de Reportagem revelou que os vencedores da licitação do Metrô de SP já eram conhecidos

DE SÃO PAULO

A reportagem vencedora do Grande Prêmio Folha de Jornalismo de 2010 é daquelas que provam -como se houvesse ainda necessidade- que o furo tem pressa.
"Por gentileza, envie esse e-mail aos jornalistas que fizeram a reportagem da empresa Capital. Obrigado." Com essa frase, o consultor Rubnei Quícoli deu a senha sobre o conteúdo-bomba dos dados de que dispunha.
A Capital Consultoria, de Saulo Guerra, filho da então ministra da Casa Civil Erenice Guerra, era investigada sob suspeita de tráfico de influência no ministério.
Com seu e-mail, Quícoli enviou telefones e a cópia de contrato comprometedor. A mensagem -uma entre as centenas que chegam todos os dias- foi recebida às 11h36 do dia 14 de setembro pelo editor-assistente de Poder Eduardo Scolese, a menos de três semanas do primeiro turno das eleições.
Três minutos depois, o e-mail foi repassado a Brasília. Às 11h48, a chefia da sucursal encaminhou a mensagem para os repórteres Rubens Valente, Andreza Matais, Fernanda Odilla e Filipe Coutinho. Às 11h51, Valente já fazia a primeira entrevista com Quícoli.
Seriam dez entrevistas antes da publicação. Enquanto isso, os repórteres descobriram que a estrutura da Presidência havia sido usada pelos lobistas ligados à empresa do filho de Erenice.
Na quarta, a reportagem foi para a gráfica. Ao meio-dia de quinta (16 de setembro), a ministra se demitiu.
Segundo diria depois o marqueteiro da campanha de Dilma Rousseff, João Santana, o caso Erenice foi, dentre todas as variáveis, incluindo a questão religiosa e o aborto, o que "mais influenciou" os eleitores na campanha, levando a disputa para o segundo turno.

OUTRAS CATEGORIAS
O Prêmio Folha de Jornalismo foi criado em 1993 para incentivar o trabalho dos profissionais que atuam na Folha, na Agência Folha, na Folha.com, no Núcleo de Revistas, no "Agora São Paulo" e no Banco de Dados. É anual. No ano passado, houve 447 trabalhos inscritos.
O jornalista Ricardo Feltrin, secretário de Redação de Novas Mídias da Folha, venceu a categoria Reportagem, por mostrar que os vencedores da licitação para a construção dos lotes 3 a 8 da linha 5 (Lilás) do metrô de SP eram conhecidos seis meses antes da divulgação oficial.
Para demonstrar que obtivera os resultados da licitação com antecedência, Feltrin gravou um vídeo em 20 de abril. Dois monitores de TV, ao fundo, mostravam programas de Globo e SBT.
Na tela de um computador plugado na internet, via-se a data da homepage. O repórter ainda registrou em cartório, no dia 23 de abril, o nome dos consórcios vencedores e qual lote caberia a cada um.
No dia 21 de outubro, o Metrô divulgou as ganhadoras. Empresas e lotes eram os mesmos registrados meio ano antes. Sob suspeita de fraude, suspendeu-se a contratação das empresas.
Na categoria Serviço, o prêmio ficou com os "Mentirômetros", série publicada de maio a outubro de 2010, cotejando a fala dos candidatos com os fatos. O responsável, jornalista Gustavo Patu, analisou as promessas dos candidatos para auxiliar a escolha dos eleitores.
O júri premiou o jornalista Fernando Rodrigues na categoria Especial, pela realização dos debates Folha/UOL para governador de SP e presidente da República. A iniciativa, pioneira na América Latina, associou a Redação do jornal ao portal de internet do Grupo Folha.
Idealizada pelo editor de Arte da Folha, Fabio Marra, e por seu adjunto, Mário Kanno, a homenagem ao cartunista Glauco (1957-2010), assassinado em 12 de março, ganhou o prêmio de Edição. No dia seguinte, a Folha foi publicada sem ilustrações. Glauco colaborava com o jornal desde 1977 e criou personagens como Dona Marta.
Marra e Kanno, em trabalho assinado pelo artista plástico Apoena (pseudônimo de uma conhecida dupla de artistas plásticos brasileiros), receberam também o prêmio na categoria Arte, pela primeira página da Folha de 31 de outubro, dia do segundo turno das eleições.
Em vez do retrato habitual dos dois candidatos finalistas, a capa do jornal estampou desenho, ocupando mais da metade da área de impressão, em que se via o traço ousado, tematizando as mazelas nacionais.
O Prêmio de Fotografia foi para Murillo Meirelles, retrato sem rosto do poeta Ferreira Gullar, publicado na revista Serafina de 29 de agosto.
A Comissão Julgadora foi formada por Sérgio Dávila, editor-executivo da Folha, Suzana Singer, ombudsman da Folha, Nilson Camargo, editor responsável do "Agora São Paulo", Fernando de Barros e Silva e Suzana Herculano-Houzel, colunistas da Folha.


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