São Paulo, domingo, 19 de junho de 2011

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ANÁLISE GOVERNO

Vice-presidente sai fortalecido da crise e terá de ser ouvido

Com esvaziamento do cargo, isso implicará apenas maior capacidade de barganha em favor do PMDB


HISTORICAMENTE, OS VICES VIVERAM SITUAÇÕES OPOSTAS: PASSAGENS SEM EXPRESSÃO OU SITUAÇÕES QUE OS CONDUZIRAM À PRESIDÊNCIA


CARLOS FICO
ESPECIAL PARA A FOLHA

O vice-presidente Michel Temer saiu fortalecido da crise que culminou com a mudança do comando político do governo Dilma. Ele terá de ser mais ouvido e, sobretudo, emendas e indicações do PMDB precisarão ser atendidas com mais presteza.
Temer é um dos políticos brasileiros mais experientes, não apenas por ter ocupado a presidência da Câmara três vezes, mas principalmente por ser um especialista no atendimento das demandas parlamentares miúdas: verbas de gabinete, emendas com indicações de obras que atendam ao eleitorado e nomeações para cargos.
As designações pomposas de "relações institucionais" e "negociação política" encobrem, na verdade, essa pequena política.
Trata-se de um fortalecimento relativo. Temer não assumirá funções significativas de gestão, embora tenha bastante conhecimento, por exemplo, de segurança pública, pois foi secretário de Estado nessa área por duas vezes em São Paulo (governos Montoro e Fleury).
Historicamente, os vice-presidentes brasileiros viveram duas situações opostas: ou tiveram uma passagem inexpressiva pelo cargo ou enfrentaram situações dramáticas que os lançaram inesperadamente na Presidência da República.
A deposição de João Goulart, vice de Jânio Quadros, instaurou a ditadura; o verdadeiro "golpe dentro do golpe" não foi o AI-5, mas sim o golpe de Estado de 1969 que impediu a posse de Pedro Aleixo, vice do adoentado Costa e Silva.
A posse do vice de Tancredo Neves, José Sarney, foi uma espécie de anticlímax da redemocratização; já a do vice de Collor, Itamar Franco, parecia demonstrar que nossa democracia ia bem.
Os vice-presidentes, até o regime militar, presidiam o Senado, mas essa função foi eliminada.
Não deixa de ser um desperdício que os ocupantes desse cargo sirvam apenas para eventualmente substituir os titulares.
Por isso o fortalecimento de Temer implicará apenas uma maior capacidade de barganha política em favor do PMDB.
Há um aspecto preocupante: Dilma e Temer não aparentam ter o bom relacionamento que marcou as duplas Lula/José Alencar ou FHC/Marco Maciel.
Assim, em tese, o fortalecimento de Temer poderia acarretar o enfraquecimento de Dilma.
Mas a verdade é que o modelo político brasileiro dá à Presidência da República uma capacidade de atração quase impossível de superar -seja lá quem for o vice-presidente.

CARLOS FICO é professor de história da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e editor do blog Brasil Recente.


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