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Ex-ministra planejava defender investigados
Erenice pretendia "ganhar dinheiro" apontando erros em processos de corrupção
ANDREZA MATAIS
DE BRASÍLIA
HUDSON CORRÊA
DO RIO
A ex-ministra da Casa Civil
Erenice Guerra pretendia trabalhar como advogada
quando saísse do governo e
"ganhar dinheiro" apontando erros em processos contra
investigados por corrupção.
Foi o que ela confidenciou
em conversa telefônica gravada, com autorização da
Justiça, pela Polícia Federal
no dia 14 de maio de 2008.
Na época, Erenice ocupava o cargo de secretária-executiva da Casa Civil e era braço-direito da ministra Dilma
Rousseff, hoje candidata à
Presidência pelo PT.
O alvo da escuta era o interlocutor dela no diálogo, o
ex-ministro das Minas e
Energia Silas Rondeau, que
havia sido exonerado do governo um ano antes, depois
de a Polícia Feferal acusá-lo
de receber propina dentro do
gabinete.
Em 2008, Silas Rondeau
era também investigado pela
Polícia Federal por suspeita
de tráfico de influência em
um esquema que envolvia o
nome do empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney
(PMDB-AP).
Por isso o telefone dele tinha sido grampeado.
CONVERSA
Na conversa interceptada
pela polícia, porém, o ex-ministro tratava de uma terceira
acusação: Rondeau havia sido denunciado pela Procuradoria da República ao Superior Tribunal de Justiça sob
acusação de envolvimento
em desvios de dinheiro de
obras públicas.
No telefonema, Erenice
procurou acalmar Rondeau.
"Isso [a denúncia] não se sustenta, Silas. Um dia eu ainda
vou sair daqui e ganhar dinheiro com essas coisas fora,
viu? Fica tranquilo, que acho
que isso vai resolver fácil,
porque não se sustenta de jeito nenhum."
Em seguida, acrescentou:
"Eu fico completamente impressionada com a capacidade de instrução de inquérito
falho que a polícia faz e a
aceitação por parte do Ministério Público. É lamentável.
Nós estamos vivendo uma
disputa política e de politização do Judiciário, que é um
negócio escandaloso".
A ligação partiu dela e foi
feita do seu então gabinete
na Casa Civil.
Erenice disse que havia
chegado a pensar no ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos para defender o
ex-colega de governo.
No entanto, a ex-ministra
aconselhou Rondeau a manter José Gerardo Grossi como
seu advogado e, além disso,
a não usar os escritórios que
os demais acusados estavam
acionando.
"Acho o seu mais experiente", afirmou Erenice.
DOSSIÊ
Quando a conversa ocorreu, Erenice enfrentava a
acusação de ter elaborado na
Casa Civil um dossiê sobre o
ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso -documento que tinha como objetivo constranger a oposição e
impedir a instalação da CPI
dos Cartões Corporativos.
Posteriormente, a Polícia
Federal comprovou que a
planilha de fato foi confeccionada dentro do Planalto e
em formato atípico.
A investigação, porém, ficou 15 meses suspensa e só
foi retomada em março deste
ano, com pedido de acareação e depoimentos do Ministério Público.
A Folha tenta falar com
Erenice desde o fim de semana passado, sem sucesso.
Ouça trecho da escuta da
Polícia Federal
folha.com.br/po800757
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