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Presidência dá aval a empresa ligada a marido de Erenice
Unicel recebeu atestado inédito de capacidade técnica para obter licença
Foi a primeira e a única
vez que a Diretoria de
Telecomunicações
aprovou serviço com
base apenas em testes
ELVIRA LOBATO
DO RIO
FERNANDA ODILLA
DE BRASÍLIA
A Presidência da República deu atestado único de capacidade técnica à Unicel do
Brasil Telecomunicações,
empresa que tem como consultor o marido da ex-ministra Erenice Guerra.
Foi a primeira e única vez
que a Diretoria de Telecomunicações da Presidência avalizou um serviço experimental, o que causou surpresa às
empresas do setor por não
ser de praxe órgãos públicos
atestarem capacidade baseados somente em testes.
O documento a que a Folha teve acesso é de janeiro
de 2007, quando Erenice era
secretária-executiva da Casa
Civil e a candidata Dilma
Rousseff (PT), ministra.
A Unicel brigava na Anatel
(Agência Nacional de Telecomunicações) por uma licença para implantar serviço de
comunicação via rádio, que
atenderia as Forças Armadas, a Presidência da República e a Polícia Federal -pedido ainda em análise.
Assinado por um diretor
da Presidência, o atestado
especifica a capacidade do
sistema e diz que ele foi instalado e operado de "maneira satisfatória".
No entanto, não consta o
período em que a rede funcionou nem que ela se baseou apenas em teste.
O presidente da Unicel, José Roberto Melo da Silva, disse que documento foi usado
em processos na Anatel e no
Tribunal de Contas da União.
PADRINHO
Silva é amigo do marido de
Erenice, José Roberto Camargo Campos, e padrinho de casamento do casal. Campos
foi contratado pela Unicel
para prestar serviços de implantação de rede.
De acordo com relato de
Silva à Folha, o marido de
Erenice foi o responsável por
instalar, de forma gratuita,
equipamentos chineses no
Ministério da Defesa e na Presidência, em 2004.
Batizado entre os militares
de ""Projeto Contato", o teste
contou com autorização da
Anatel, mas ainda sem ter licença para implantar comercialmente o serviço.
Ainda em 2004, a Unicel
participou de chamamento
público na Anatel para interessados em explorar a faixa
frequência não usada pelas
operadoras de celular.
O elo da empresa com os
militares aumentou em 2005,
quando o coronel da reserva
Elifas Gurgel foi nomeado
presidente da Anatel e autorizou a Unicel a explorar comercialmente a frequência,
com dispensa de licitação.
A medida foi contestada
pela área técnica do órgão regulador, favorável à realização de licitação. A Unicel recorreu à Justiça.
A discussão só acabou no
ano passado, quando o TCU
confirmou o entendimento
de que era dispensável a licitação, mas ordenou que a
Anatel convocasse todas as
empresas que haviam manifestado o interesse em 2004,
e não apenas a Unicel.
Segundo a "Veja", Erenice
e o marido fizeram pressão
na agência para que técnicos
revissem pareceres e conselheiros mudassem os votos, e
teriam conseguido reduzir
em R$ 8,4 milhões o valor da
concessão prevista em lei.
Após deixar o comando da
Anatel, Elifas Gurgel tornou-se consultor da Unicel. Ele
confirmou à Folha que representa a empresa em processos na agência reguladora e
que participou de reuniões
na Defesa para discussão do
projeto testado em 2004.
Caminho inverso fez o advogado da empresa Gustavo
Laender, que deixou a Unicel
e foi nomeado em janeiro
deste ano assessor da Secretaria Executiva da Casa Civil.
Há dois anos, a empresa
tornou-se operadora de telefonia celular na Grande São
Paulo, com a marca "aeiou".
A implantação da rede foi feita pelo marido de Erenice.
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