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Campanha amazônica refuta discurso verde
Candidatos criticam ambientalistas e atribuem indicadores sociais ruins a visão da floresta como "santuário"
Especialistas criticam discurso de políticos na eleição e temem que degradação ambiental na região aumente
ESTELITA HASS CARAZZAI
FELIPE BÄCHTOLD
DE SÃO PAULO
KÁTIA BRASIL
DE MANAUS
Se na campanha para presidente Marina Silva (PV) é a
militante ecologista, nos Estados da Amazônia há candidatos fazendo campanha cujo lema é a flexibilização de
restrições ambientais.
Na esteira da discussão sobre o novo Código Florestal,
partidos prometem lutar por
mais autonomia dos Estados
nos licenciamentos. Há ressentimento contra o que chamam de centralização de
Brasília e "tecnocratas" que
"agem com base no Google".
Vários candidatos culpam
os indicadores sociais ruins
da região pela visão da mata
como "santuário".
A disputa no Acre é o caso
mais evidente: uma das
maiores coligações tem como nome "Liberdade e produzir para empregar".
Tião Bocalom (PSDB), que
disputa o governo, fala que a
população "não aceita" o
atual modelo de desenvolvimento sustentável "do PT".
"Muitos olham a Amazônia e apenas os macacos, as
árvores, os bichos e esquecem que aqui tem gente também, que essa gente precisa
de qualidade de vida."
Outros mantêm críticas ao
mesmo tempo em que adotam o slogan do "desenvolvimento sustentável".
Em Roraima, a revolta tem
origem na demarcação de
terras indígenas, como a Raposa/Serra do Sol, e de áreas
de preservação federais.
O governador José de Anchieta Júnior (PSDB), que
tenta a reeleição, e seu rival
Neudo Campos (PP) acham
que isso trava a economia local (leia texto nesta página).
Anchieta fala que os países desenvolvidos querem
que o Brasil seja a "babá ambiental do planeta".
Em Rondônia, Expedito
Júnior, candidato tucano, vai
na mesma linha e diz que outros países "acabaram com
suas florestas e agora querem interferir" no Brasil.
O governador, João Cahulla (PPS), falou num debate
que o "agricultor da mão calejada está sendo enrolado
pelos ambientalistas".
O candidato do PSDB no
Amapá, Jorge Amanajás, que
também fala em sustentabilidade e em "pressões internacionais", considera que a
candidatura de Marina não
"defende da forma que deveria" o desenvolvimento da região. "Não podemos olhar só
o lado preservacionista."
"AMAZÔNIA ARRASADA"
Especialistas criticam a visão das campanhas e temem
que as ideias se concretizem.
O pesquisador do Imazon
Adalberto Veríssimo afirma
que essas propostas prejudicam interesses do país.
"O Brasil pode e deve desenvolver a Amazônia sem
desmatar. Temos uma área
desmatada de três vezes o Estado de São Paulo. É uma
parte, inclusive, abandonada. Vamos aproveitar áreas
já desmatadas, intensificar a
agropecuária lá."
Cientista do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, o americano radicado
no Brasil Philip Fearnside diz
que a liberdade aos Estados
"arrasaria a Amazônia".
"[Os Estados são] muito
mais sujeitos a lobbies de
quem vai ganhar diretamente com os desmatamentos",
afirma Fearnside, integrante
da equipe premiada com o
Nobel da Paz por trabalhos
sobre mudanças climáticas.
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