São Paulo, segunda-feira, 19 de setembro de 2011

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ENTREVISTA DA 2ª / JOSÉ SERGIO GABRIELLI

Petrobras não dará retorno no curto prazo, afirma Gabrielli

PRESIDENTE DA MAIOR EMPRESA DO PAÍS DIZ QUE AÇÃO ESTÁ SENDO PENALIZADA NO MERCADO FINANCEIRO E QUE GOVERNO NÃO REGULA O PREÇO DA GASOLINA

Sergio Lima/Folhapress


ELEONORA DE LUCENA

ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA
VALDO CRUZ
DE BRASÍLIA

É preciso olhar o longo prazo. A indústria do petróleo não trabalha no curto prazo.
Com esse raciocínio, José Sergio Gabrielli, presidente da Petrobras, avalia o impacto da crise internacional na dinâmica da empresa.
"No curto prazo não daremos grande lucratividade, mas no longo prazo com certeza daremos", afirma sobre o comportamento das ações.
Fala ainda da sua relação com a presidente Dilma. "Agora, ela como presidente da República, tenho que obedecê-la, não tenho que discutir com ela mais."
 

Folha - Qual será o impacto da da crise externa na Petrobras?
José Sérgio Gabrielli -
Em janeiro de 2009 aumentamos investimentos e fomos para o mercado. A dúvida era se teríamos uma crise profunda.
O que se dizia então é o mesmo que se diz hoje: a indústria de petróleo não trabalha no curto prazo. Não há decisões que se tomem que tenham efeito em menos de quatro anos.
Se a demanda de petróleo não crescer nada, só para substituir o decréscimo na produtividade dos poços -de 7% a 10% ao ano- a produção vai aumentar.

Em que o preço da gasolina defasado impacta na decisão da Petrobras de investimento? E em quanto está defasado?
No curto prazo, nada. O que importa para nós é o longo prazo. Se olharmos de 2002 para cá o preço da gasolina no Brasil segue o preço internacional quase em linha. Em alguns momentos estamos acima, em outros abaixo.

Estamos acima ou abaixo?
Hoje estamos abaixo.

Quanto?
Depende do que você vai considerar que é o preço referencial. E cada dia muda.

Qual é o ideal?
Cada dia muda. É um número que não significa absolutamente nada no curto prazo. Porque o preço do petróleo a cada momento muda.
Quem for trabalhar para a indústria baseado nisso para decisão de investimento está completamente despirocado.

Dizem que o sr. vem a Brasília sempre para falar de preço.
Mas eu não tenho que pedir preço. Teoricamente eu não tenho que pedir.

Como não? O sr. não tem que defender a empresa?
Pelo contrário. Não tenho que pedir nada porque o governo não regula preço no Brasil. Legalmente não tem regulação de preço.

Legalmente, mas na prática... É decisão de governo.
É decisão de conselho.
No qual o governo tem [maioria]...
O conselho da Petrobras, que se reúne todo o mês, define a estratégia de preço da empresa, que é ajustar o preço no longo prazo. Estou dizendo que no longo prazo vamos ajustar se o preço continuar do jeito que está.

O sr. enxerga a Petrobras no álcool de que tamanho?
Vamos sair de 5,3% do mercado para 12% até 2015. O maior produtor hoje tem 7,5%, a Shell/Cosan.

Porque as ações da Petrobras sentem tanto?
Primeiro, porque todas as ações estão sentindo. Segundo, a Petrobras fez a maior capitalização da história mundial em 2010. Isto tem um custo. O fato é que, nesse período, as ações da Petrobras, que são das mais líquidas em Nova York e São Paulo, sofreram bastante.
Hoje, temos uma situação de penalização no curto prazo.
Quando você olha no futuro, do ponto de vista dos fundamentos, nenhuma empresa de petróleo apresenta a perspectiva de crescimento da Petrobras. Não baseada em sonho, mas em reservas comprovadas, contratos.
No curto prazo não daremos grande lucratividade, mas no longo prazo com certeza daremos lucratividade.
Quando você olha para o passado verá isso. Se você pega os últimos dez anos, entre todas as empresas de petróleo do mundo, a que mais valorizou foi a Petrobras. Se pega os últimos cinco anos, a Petrobras é também a que mais se valorizou. Se pegar nos últimos três, não. Portanto, olhando para o passado e para o futuro, essa é uma empresa de longo prazo.

Estamos vendo uma grande concentração no setor de petroquímica no Brasil.
Pouca, eu diria.

Pouca? Vai concentrar mais?
A indústria petroquímica é de empresas grandes, integradas às do petróleo. Não há espaço para empresas pequenas desintegradas. O que nós tínhamos era um modelo equivocado, que por razões ideológicas impedia a Petrobras de entrar no setor.

Que razões ideológicas?
O Estado não podia entrar, só o setor privado podia entrar na indústria petroquímica, houve a privatização da Petroquisa. E a Petrobras foi proibida de entrar na petroquímica até 2003. Adquirimos 39% da Braskem, e por meio dela vamos crescer.

E o consumidor?
Ele não consome o produto dessas empresas. Consome da terceira geração.

Mas quem compra...
A terceira e quarta geração compram desses produtores, que tendem a vender a preço internacional.
Temos uma economia aberta. A menos que você feche ou a Petrobras subsidie, que é o que alguns querem, o preço tem de ser internacional.

E a polêmica da sua estada no hotel de José Dirceu?
Polêmica? O jornalista da "Veja" fez ilações sobre a minha presença lá. Eu não preciso dizer o que fui conversar com o meu amigo.

O sr. poderia estar lá falando sobre eleição?
Não vou dizer o que fui falar com meu amigo, não interessa, é conversa privada.

Pretende disputar eleição?
Nesse momento, eleição de 2012, eu não serei candidato, estando ou não na Petrobras. Pode publicar de forma peremptória, não serei candidato em 2012. 2014 está muito longe para decidir.

Qual é a sua visão sobre energia alternativa? Será sempre alternativa?
No mundo hoje, se somar as fontes primárias de energia, eólica, solar, geotermal, mais ondas, juntas, são 0,9% da matriz energética mundial. Se você fizer com que esse setor cresça dez vezes mais do que os outros, sairá de 0,9% para 9% em vinte anos. Portanto, não temos nenhuma ilusão de que energia alternativa vá ser substituta do petróleo, do gás e do carvão.

Como é a sua relação com a presidente Dilma?
Uma relação de duas pessoas muito firmes e fortes. Nos conhecemos desde 2002, ela tem opiniões firmes, eu também tenho, nós nos gostamos muito, nos respeitamos muito, mas temos posições diferenciadas.
Agora, ela como presidente da República, tenho que obedecê-la, não tenho que discutir com ela mais.

Os interesses da Petrobras nem sempre coincidem com os do governo?
Não é necessariamente isso. Temos divergências sobre tudo, várias coisas temos divergências.

Tipo?
Futebol, música, casamento, importância das coisas. Divergências de orientação geral, estratégica não há.


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