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ANÁLISE
Maioria crê que dinheiro não pode comprar a graça divina
HÉLIO SCHWARTSMAN
ARTICULISTA DA FOLHA
Por que tanta gente fica indignada com as práticas mercantis da Universal? A resposta tem mais a ver com dinheiro do que com religião.
Nossos cérebros não foram
projetados para a economia
de mercado. Sistemas de troca que envolvem o dinheiro
nada têm de natural: exigem
alto grau de abstração e requerem complexos cálculos,
inconcebíveis no passado
darwiniano em que nossas
mentes foram moldadas.
É só com muito esforço e
prática que nos habituamos
a operar no maravilhoso
mundo das compras -e ainda assim, não inteiramente.
Em diversas esferas, nossas emoções falam mais alto
e bloqueiam transações financeiras. O filósofo americano Michael Walzer elaborou uma lista das coisas que,
hoje nos EUA, o dinheiro não
pode comprar. Ela inclui pessoas (escravidão) e pedaços
de pessoas (órgãos), cargos
públicos, amor, prêmios e
honrarias, isenção de serviço
de júri e, não surpreendentemente, a graça divina.
A maioria tende a achar
que não se pode atribuir um
preço a itens como esses. Na
prática, tudo tem um valor.
Pode ser difícil traduzi-lo em
termos monetários, mas isso
não significa que não exista.
Num experimento conduzido pelo psicólogo Philip Tetlock, pessoas foram convidadas a avaliar a atitude de
um administrador de hospital que tem de decidir se vai
gastar US$ 5 milhões para
salvar a vida de um garotinho de 5 anos ou usar o dinheiro para beneficiar mais
gente. Qualquer que seja a
escolha do administrador,
ela será desaprovada.
O mesmo vale para a salvação. Por que rezas, penitências e arrependimento
são uma moeda de troca aceitável, e contribuições financeiras, não? Para a Universal,
não há por que ter vergonha
de dar nome aos bois, ou preço aos sacramentos. Nossos
cérebros pré-mercantis, porém, não concordam e veem
na ênfase monetária um sinal de imoralidade: Deus não
precisa de dinheiro, só os homens de Deus.
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