São Paulo, domingo, 20 de junho de 2010

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ANÁLISE

Maioria crê que dinheiro não pode comprar a graça divina

HÉLIO SCHWARTSMAN
ARTICULISTA DA FOLHA

Por que tanta gente fica indignada com as práticas mercantis da Universal? A resposta tem mais a ver com dinheiro do que com religião.
Nossos cérebros não foram projetados para a economia de mercado. Sistemas de troca que envolvem o dinheiro nada têm de natural: exigem alto grau de abstração e requerem complexos cálculos, inconcebíveis no passado darwiniano em que nossas mentes foram moldadas.
É só com muito esforço e prática que nos habituamos a operar no maravilhoso mundo das compras -e ainda assim, não inteiramente.
Em diversas esferas, nossas emoções falam mais alto e bloqueiam transações financeiras. O filósofo americano Michael Walzer elaborou uma lista das coisas que, hoje nos EUA, o dinheiro não pode comprar. Ela inclui pessoas (escravidão) e pedaços de pessoas (órgãos), cargos públicos, amor, prêmios e honrarias, isenção de serviço de júri e, não surpreendentemente, a graça divina.
A maioria tende a achar que não se pode atribuir um preço a itens como esses. Na prática, tudo tem um valor. Pode ser difícil traduzi-lo em termos monetários, mas isso não significa que não exista.
Num experimento conduzido pelo psicólogo Philip Tetlock, pessoas foram convidadas a avaliar a atitude de um administrador de hospital que tem de decidir se vai gastar US$ 5 milhões para salvar a vida de um garotinho de 5 anos ou usar o dinheiro para beneficiar mais gente. Qualquer que seja a escolha do administrador, ela será desaprovada.
O mesmo vale para a salvação. Por que rezas, penitências e arrependimento são uma moeda de troca aceitável, e contribuições financeiras, não? Para a Universal, não há por que ter vergonha de dar nome aos bois, ou preço aos sacramentos. Nossos cérebros pré-mercantis, porém, não concordam e veem na ênfase monetária um sinal de imoralidade: Deus não precisa de dinheiro, só os homens de Deus.


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