|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros
PRESIDENTE 40 ELEIÇÕS 2010
TV estatal manda cinegrafista registrar comícios de Dilma sem identificar canal
Cartaz na sede da NBR orientava equipes a tirarem símbolos com marca da emissora nos eventos de campanha
Mesmos funcionários
que viajam para cobrir atos oficiais de Lula têm
de registrar campanha e
gravar em DVD à parte
SIMONE IGLESIAS
DE BRASÍLIA
A Presidência da República usa funcionários públicos
e equipamentos de TV oficial
do governo federal para filmar comícios da candidata
Dilma Rousseff (PT) que tenham a participação de Luiz
Inácio Lula da Silva.
A ordem é para que cinegrafistas e auxiliares da NBR
gravem todos os discursos do
presidente nos eventos da
campanha eleitoral.
A direção da TV estatal determinou que esses servidores, antes de iniciarem as filmagens, tenham o cuidado
de retirar os sinais de identificação da emissora estatal -a
camiseta ou colete, a canopla
(peça que tem a logomarca)
do microfone e o adesivo colado na câmera.
A TV NBR é o canal da EBC
(Empresa Brasil de Comunicação) que noticia atos e políticas do governo.
Na sede da emissora, em
Brasília, havia na semana
passada cartazes com a ordem para tirar a identificação
dos equipamentos. O texto é
assinado por Lidia Neves,
chefe de reportagem.
"Cinegrafistas e auxiliares: além da agenda oficial,
que é parte da nossa cobertura, o presidente Lula tem viajado também para participar
de comícios e eventos de
campanha", orienta o cartaz.
"Para o que não é agenda
oficial, estamos mandando
um cinegrafista sempre junto
para acompanhar. O objetivo
é somente ter um registro,
gravando ações do presidente e os discursos", diz o texto.
Em seguida, vem a orientação: "Este material está
sendo gravado sem a canopla da TV NBR, porque não é
para a NBR. Este conteúdo
não é para ser usado na nossa cobertura, nem mesmo
para ser gerado para as emissoras. É apenas para registro.
Em caso de dúvidas, por favor procurem a mim ou um
dos coordenadores. Lidia".
FORA DO EXPEDIENTE
Quando começou a campanha presidencial, Lula avisou publicamente que sua
participação nos comícios de
Dilma aconteceria nos dias
ou horários de folga, "fora do
expediente" da Presidência.
Desde julho, o presidente
tem conciliado eventos oficiais com atos de campanha.
Não há irregularidade nisso.
Os gastos da Presidência com
essas viagens têm sido ressarcidos pelo PT desde então.
Esse zelo, no entanto, não
ocorreu no uso da estrutura
da NBR: os funcionários públicos estão trabalhando em
eventos que o próprio Planalto classifica como "compromissos privados" de Lula.
Ou seja, para registrar momentos da campanha partidária, o governo federal faz
uso de salário, equipamento,
passagens e diárias que são
bancados pela União.
No fim do texto, há um resumo, destacado: "O que for
campanha, gravar tudo na
íntegra: reuniões, discursos e
entrevistas". Os cartazes foram retirados da NBR depois
que a Folha foi até lá e os fotografou, na quinta-feira.
Por meio de nota, a emissora afirmou que tem um
contrato de prestação de serviços com a Secretaria de Comunicação da Presidência, e
que as imagens estão sendo
feitas para "registro histórico". Negou uso eleitoral (leia
mais na pág. 3).
Segundo a Folha apurou,
no entanto, cinegrafistas e
técnicos que se recusaram a
seguir a determinação foram
ameaçados de demissão ou
retaliados pela direção da
TV. Houve ao menos duas
advertências, uma por escrito, em quatro casos ouvidos.
Os cinegrafistas relataram
à Folha -pedindo anonimato por temerem retaliação-
que têm de seguir duas outras orientações: gravar os
eventos de campanha em
DVD diferente daquele em
que estão as imagens dos
atos institucionais e, ao chegar à sede da empresa, em
Brasília, entregar o DVD dos
comícios para a chefia.
A reportagem não teve
acesso a esse arquivo paralelo de horas de filmagem. Não
se sabe se essas imagens foram encaminhadas ao comitê de Dilma ou utilizadas na
propaganda eleitoral.
A legislação veda o uso
eleitoral da máquina pública
(leia texto nesta página).
A determinação fere também o estatuto da NBR. Cabe
à emissora divulgar somente
os atos institucionais do Executivo, o que inclui os ministérios, com prioridade para a
Presidência da República.
A NBR faz parte da EBC, assim como a TV Brasil, a Agência Brasil e a Rádio Nacional.
A empresa foi criada em 2007
e juntou a Radiobrás e emissoras públicas estaduais.
Em 2006, quando Lula
concorreu à reeleição, a chefia da NBR proibiu a gravação de eventos de campanha, justamente para não
configurar crime eleitoral.
Texto Anterior: Dourados: Procuradoria vê irregularidade em entrega de cestas
Próximo Texto: Lei eleitoral veda servidor e bens em campanha Índice | Comunicar Erros
|