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"Processo contra poderoso não dá em nada"
DE BRASÍLIA
Autora de ações que resultaram em multa contra o presidente Lula por campanha
antecipada e chamada por
ele de "uma procuradora
qualquer", Sandra Cureau
faz crítica à Justiça no Brasil.
Segundo ela, "processo
envolvendo pessoas poderosas não dá em nada".
Por afirmar que o elogio a
Dilma Rousseff por Lula em
evento público caracterizava
uso da máquina, foi criticada
pelo presidente e alvo de
ameaça de ação pelo PT.
Para ela, até aqui, não há
nada que possa levar à impugnação de candidaturas
presidenciais.
Folha - A sra. já foi filiada a algum partido?
Sandra Cureau - Nunca fui
filiada a partidos. Meu coração já bateu por pessoas, não
por partidos.
E está batendo por alguém?
Hoje, não. Lamento isso,
mas não está.
Já votou no presidente Lula?
Votei no Lula em 89, no
primeiro e no segundo turnos. Eu estava grávida, fui ao
comício da Cinelândia, no
Rio, e depois fiquei imprensada na multidão, no metrô.
Votei nele de novo em 94 ou
98, não me lembro. Num ano
votei no Lula e, no outro, no
Fernando Henrique. Em
2002, votei no Lula de novo.
Em 2006 não votei, estava
trabalhando nas eleições como procuradora eleitoral.
A sra. não votou nele em 2006
por conta do mensalão?
Talvez seja. Talvez tenha
sido impactada por essas
confusões.
Em quem a sra. vai votar?
Tem hora que aparece alguém que desponta como
uma esperança, tem hora
que não aparece. Eu ainda
não decidi.
Gostaria de votar numa mulher? Há duas disputando.
Gostaria que tivéssemos
uma mulher presidente, mas
não sei em quem votar.
O PT tem insinuado que a sra.
está pendendo para o lado
dos tucanos nessa eleição.
Eles não fazem contas? Estou representando contra todos. Estou analisando os dois
casos. Estou esperando a gravação, não basta apenas notícia de jornal. Só então vou
checar se pode ter havido
uma campanha subliminar.
A sra. se arrependeu de ter
votado em Lula?
Não. Eu o acho uma pessoa extremamente carismática, com uma capacidade
enorme de interagir com o
povo. É inegável.
Fez um bom governo?
Parece-me que sim. Tanto
ele como o Fernando Henrique fizeram bons governos.
O presidente Lula chamou a
sra. de "uma procuradora
qualquer".
Ele não falou meu nome.
Pode-se deduzir que sim,
mas seria desonesto dizer
que me deu uma cacetada.
Mas essa insinuação a respeito da sra. não incomoda?
O que me incomodou foi
uma visão meio depreciativa
do Ministério Público. Não
sou nada, as pessoas podem
achar de mim o que quiserem, mas a instituição...
Há dados para impugnar uma
candidatura presidencial?
As multas aplicadas até
aqui, sozinhas, não são capazes de impugnar. Não houve
até aqui situações que possam caracterizar desequilíbrio das eleições. Teria de ter
um ato que fizesse uma candidatura subir astronomicamente nas pesquisas. Isso
não aconteceu. Quanto mais
importante o cargo, mais cuidadoso você tem de ser, para
não cair no golpismo.
Como assim?
Golpismo no sentido de alguém fazer uma artimanha
para afastar o outro da eleição, pegar um ato apenas.
Por isso tem de ser algo que
desequilibre as eleições para
levar a uma impugnação.
Quais os problemas da legislação eleitoral?
A multa é muito baixa. No
Brasil, temos um exagero de
recursos. Quem tem condição de pagar um excelente
advogado pode se sustentar
até cumprir o mandato ou, ao
contrário, consegue prescrever ação penal e derrubar o
adversário que ganhou. Processo envolvendo pessoas
poderosas não dá em nada.
Achava extremamente frustrante na área penal. Vamos
ver na eleitoral.
(EC, VC e FS)
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