São Paulo, quinta-feira, 21 de outubro de 2010

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Jornalista admite à PF que encomendou dados fiscais

Informações constavam de dossiê que circulou na pré-campanha de Dilma

Repórter diz que pediu dados contra tucanos porque deputado ligado a Serra estaria reunindo munição contra Aécio

LEONARDO SOUZA
DE BRASÍLIA

O jornalista Amaury Ribeiro Jr., ligado ao chamado "grupo de inteligência" da pré-campanha de Dilma Rousseff (PT), reconheceu em depoimento à Polícia Federal que encomendou dados de dirigentes tucanos e familiares de José Serra (PSDB), como a Folha revelou ontem.
Amaury nega que tenha pedido documentos fiscais sigilosos. Porém, todos os alvos do jornalista tiveram seus dados violados em duas agências da Receita Federal em São Paulo.
Os dados foram parar no dossiê que circulou na pré-campanha de Dilma, como a Folha mostrou em junho.
Para a PF, não há dúvida de que foi Amaury quem comprou as declarações de imposto de renda, pelas quais pagou R$ 12 mil.
A polícia agora investiga se alguém o contratou para fazer isso.
Quando os documentos foram incluídos no dossiê, já neste ano, o jornalista atuava para o "grupo de inteligência" do comitê de pré-campanha de Dilma. Sua estadia na capital era paga por integrantes do PT.
Mas, quando houve a violação dos sigilos, em outubro de 2009, Amaury mantinha vínculo empregatício com o jornal "Estado de Minas".
O PT atribui ao diário mineiro proximidade política com o ex-governador tucano Aécio Neves, eleito senador.
O jornalista não disse à PF se recebeu orientação de políticos do PSDB de Minas para levar adiante a "pesquisa". Nem se a encomenda foi do próprio jornal.
No depoimento, ele afirmou que iniciou a apuração ao descobrir que o deputado Marcelo Itagiba (PSDB-RJ), ligado a Serra, estaria reunindo munição contra Aécio.
No período, Serra e Aécio disputavam a indicação do partido para a candidatura à Presidência.
Amaury não deixa claro, porém, se recebeu ordens ou se iniciou a apuração por conta própria.
Ele desconversou quando questionado se pagou pelos dados -o que seria admitir um crime. Em nota, reiterou que "jamais pagaria" por informações sigilosas "de qualquer cidadão".
O despachante Dirceu Rodrigues Garcia, porém, declarou à PF que o jornalista pagou R$ 12 mil em dinheiro vivo pelas informações.
Segundo o delegado Alessandro Moretti, Amaury afirmou que todas as despesas relacionadas a seu trabalho, como as viagens de Brasília a São Paulo para buscar os dados, foram custeadas pelo jornal "Estado de Minas".
Amaury, no entanto, atribuiu a uma ala do PT o vazamento dos dados para a imprensa. Segundo ele, uma ala do partido disputava o controle de contratos da campanha petista.
Amaury contou à PF que petistas roubaram os dados de seu computador num quarto de hotel em Brasília.
Segundo a PF, Amaury deixou "Estado de Minas" no mesmo mês em que os dados dos tucanos foram violados -outubro de 2009.
O jornalista até aqui nega que estivesse trabalhando para a campanha do PT. Mas ele participou de reunião do "grupo de inteligência" em 20 de abril deste ano, num restaurante de Brasília.
Na época, o responsável pela comunicação da pré-campanha de Dilma era o jornalista Luiz Lanzetta, que participou do encontro.
Em entrevista ao portal G1, em junho, Lanzetta disse que havia uma disputa de poder no PT envolvendo um grupo ligado à ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy (2001-2004) e o grupo comandado pelo ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel.


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